Aconteceu em
Mogi das Cruzes neste mês de setembro de 2013, mas poderia ter ocorrido em
qualquer cidade do Brasil. Dois motoristas se perseguem numa avenida à noite.
Batem. Um dos carros desgovernado invade a calçada, atropela oito jovens, dos
quais seis morrem. Esse motorista é preso, o outro foge. Fatalidade?
Irresponsabilidade?
Detalhes
surgem apenas nesses acidentes com grande impacto emocional. Não culpo a imprensa,
pois não é função da mídia reformar o país.
O motorista
atropelador é pedreiro e dirigia um Monza. Preconceito meu? Não. Irresponsabilidades
desse tipo são mais comuns nas classes mais altas.
Esse motorista
tinha sua CNH vencida há vinte anos. Alguém duvida que durante todos esses anos
ele se absteve de dirigir quando teve oportunidade, em função de não estar
legalmente habilitado?
Conheci
dezenas de casos semelhantes. Parentes, amigos, conhecidos, nenhum admitiu ter
parado de dirigir por estar em condição ilegal. CNH vencida, CNH recolhida por
excesso de pontos, documentação do veículo irregular, o que seja. O máximo que fazem
é tomar um pouco mais de cuidado, o que geralmente significa evitar pegar
estradas onde haja fiscalização com polícia rodoviária.
Um repórter me
pergunta se conheço qual é a fração de motoristas com CNH vencida ou recolhida
que continua dirigindo. Minha resposta: sim, conheço, todos. “Mas a
porcentagem?” Provavelmente 100%. “Há como comprovar?” Sim, mediante pesquisas
de campo. “Elas existem?” Não. “Qual a razão desse comportamento? É a [má]
índole do brasileiro?”
Não,
absolutamente NÃO. Já disse e repito, o brasileiro não é pior nem melhor do que
outros povos. A ÚNICA RAZÃO PARA ESSE DESCALABRO É A TOTAL E COMPLETA FALTA DE
POLICIAMENTO DE TRÂNSITO NAS RUAS DAS CIDADES BRASILEIRAS. DISSE POLICIAMENTO
E NÃO FISCALIZAÇÃO À DISTÂNCIA.
Em 25 de abril
publiquei uma postagem, da qual reproduzo trecho em azul:
Como enfatizei diversas vezes, o maior problema de nosso
“Sistema Nacional de Trânsito” é a inexistência na prática da verdadeira
AUTORIDADE policial fiscalizando permanentemente o transito de modo amplo,
contínuo e severo. Nas estradas há algum policiamento, mas muito longe do
mínimo necessário para que possa ser realmente eficaz, por falta de efetivo,
equipamentos e métodos de ação modernos (fora os entraves legais para uma ação policial
mais contundente).
Daí vem a maior parte da sensação de impunidade que aquela fração de motoristas
relapsos, displicentes, agressivos, afoitos, delinquentes e os que “não querem
passar por trouxas” (agindo, portanto, do mesmo modo que os outros) têm. Na
verdade creio que o problema é ainda pior. Sensação de impunidade subentende
uma percepção consciente: “posso fazer o que bem entender porque ninguém vai me
impedir, portanto faço e continuarei fazendo todas as barbaridades que quiser”.
A impunidade no trânsito tem sido tamanha no Brasil, ao longo de tanto tempo,
que se estabeleceu no subconsciente das pessoas. O futuro nos cobrará um alto
preço por isso.
A outra parte vem do sistema legal - jurídico estupidamente leniente,
traço praticamente incurável da cultura brasileira. Quase todas as semanas em
algum lugar do Brasil alguém bêbado (às vezes sem habilitação), invade calçadas
ou pontos de ônibus, atropelando, ferindo e matando pessoas. Levado à delegacia
(onde se comprova a embriagues) paga R$ 1.500,00 de fiança e sai para responder
processo por crime culposo em liberdade. No dia seguinte está dirigindo de
novo. As autoridades fazem de conta que “com a carteira cassada” o trabalho está
feito, o cidadão não vai mais pegar no volante. Pois sim...
Só nos resta esperar
a próxima tragédia... e a próxima... e a próxima... e a próxima... e a próxima...
e a próxima...
02 de outubro de
2013
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