segunda-feira, 30 de maio de 2011

Segurança no trânsito é prioridade nacional?

Voltaremos num momento apropriado aos relatórios da ONU. Por enquanto, devemos nos ater à pergunta do título desta postagem: Segurança no trânsito é prioridade nacional? Supõe-se que problemas prioritários são abordados também prioritariamente, na tentativa de mitigá-los, embora saibamos que nem sempre resultados acontecem de acordo com as expectativas da população, seja em eficácia ou na velocidade com que melhorias ocorrem, quando ocorrem!
Infelizmente, e acho que a maioria vai concordar comigo, segurança no trânsito nunca foi, não é e é pouco provável que venha a ser uma das grandes e constantes prioridades nacionais. Não cabe culpar a população por isso. Cá entre nós, as grandes prioridades são aqueles temas mais comumente explorados pelos políticos nas campanhas de eleições majoritárias. Políticos têm um faro extraordinário para essas coisas. Atendimento médico hospitalar ou em postos de saúde, segurança, moradia, emprego, educação, drogas, creches, disponibilidade e custo de transporte coletivo, custo de vida, correção salarial, salário mínimo, condições de aposentadoria e pensões, "melhorar de vida", essas e outras questões similares e seus desdobramentos são as grandes e contínuas preocupações da maior parte da população, o que é absolutamente natural.
Assim, não há como temas aparentemente menos importantes competir com elas no quesito atenção dos políticos e órgãos públicos. Para onde são direcionadas as parcas verbas que “sobram” de nossos “poucos” impostos pagos compulsoriamente, após o grosso ser absorvido na auto-sustentação do sempre crescente parasita estatal, também conhecido como máquina pública? O rabo que abana o cachorro? Num país em que a cultura histórica, desde os tempos das capitanias hereditárias, fundiu em pedra a noção de que o país existe para servir os que usufruem dos cargos e poderes públicos (resquícios da colônia) e não o contrário? Acreditem, não há outra razão mais básica para a persistência de nossas mazelas administrativas.
Apesar disso perseveramos. Em várias frentes, cidadãos conscientes e entidades mostram sérias deficiências nas e prioridades para o aperfeiçoamento de nossas instituições. Muitas vezes apontam e lutam pela incorporação de medidas concretas para mitigar os problemas. Não é fácil, vejam, por exemplo, o caso da lei “fixa limpa”, iniciativa popular que infelizmente pode acabar dando em nada, tamanha a reação do “establishment” oficial. Mas não vamos desistir. Democraticamente.
Seja ou não no momento prioridade alta para a população, temos de encontrar meios de diminuir rapidamente a carnificina que está ocorrendo em nossas ruas e estradas, a qual vai piorar rapidamente em função do crescimento da população, da frota e dos tipos de veículos em circulação (duas rodas), se nada passar a ser feito fundamentalmente diferente a partir de agora. A população brasileira ainda não tomou consciência da verdadeira dimensão desse problema e como ele vem afetando negativamente a vida de milhões de concidadãos. Coberturas esporádicas na mídia ainda não atingiram a fase de "constância de propósito", essencial para fazer algo começar a mudar.
 Escrito por Paulo R. Lozano às 11:00 do dia 30/05/2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A ONU E A SEGURANÇA NO TRÂNSITO


Antes de prosseguir com nossas análises, convém lembrar que recentemente a ONU, através de seu braço World Health Organization – WHO – (Organização Mundial da Saúde) lançou recentemente um “Plano Global” para fazer dos anos 2011 – 2020 a Década de Ação para a Segurança nas Vias (tradução livre de Global Plan for the Decade of Action for Road Safety 2011-2020). A história não está descrita completamente no plano, mas os estudos que levaram a ele se iniciaram com a formação do comitê “The United Nations Road Safety Collaboration (UNRSC) em 2004. Isso porque, em 2004 a OMS e o Banco Mundial haviam publicado os resultados de uma pesquisa global que os dois organismos promoveram (primeiro caso de estudo conjunto executado por eles) sobre o “status” da (in)segurança no trânsito ao redor do mundo. Como podemos adivinhar, esses resultados eram catastróficos, em valores materiais e principalmente em sofrimento humano. A WHO passou a considerar desde então a questão dos mortos e feridos no trânsito um sério problema de saúde pública, comparável às doenças graves, e classificou-a como pandemia.   
O estudo de 2004 não se limitava, porém, a indicar simplesmente estatísticas de mortos e feridos como normalmente ocorre em levantamentos desse tipo, apontava adicionalmente um amplo conjunto de ações concretas que poderiam/deveriam ser implementados em todos os países a fim de mitigar o problema. E previa o que ocorreria nos próximos anos com a evolução da motorização no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento, se nada de diferente fosse feito.
Pergunto-me porque a ONU demorou mais de seis anos entre a divulgação do estudo WHO-WB e a proposição atual do Global Plan. Nesse intervalo as propostas do estudo anterior ficaram esquecidas. Há pontos positivos no Global Plan, é claro, mas tenho sérias restrições a algum conteúdo desse plano o qual, aprovado e liberado por uma instituição eminentemente política como a ONU pareceu-me ser político demais. Mais comentários no futuro.
A razão dessa inserção aparentemente desconectada com o que já postei é simples: devemos trabalhar para civilizar o trânsito no Brasil com ou sem compromissos com metas internacionais. E começar já; estamos um século atrasados.

Escrito por Paulo R. Lozano às 18:00 do dia 26/05/2011

Mudar. Por quê?


Agir de um modo diferente significa mudar. Mudar por quê? Não tenho competência para isso e não é preciso entrar aqui num longo tratado psicológico, sociológico ou até mesmo antropológico sobre o que motiva mudanças comportacionais – e, em decorrência, institucionais – coletivamente. Todavia, acredito que haja concordância quanto à conveniência em se mudar condições que estão provocando problemas altamente inconvenientes.
Então, quando não se trata de mudar a cor do cabelo por gosto ou moda e sim mudar para mitigar um “problema”, a pré-condição é bem conhecida na sabedoria popular: para solucionar um problema é preciso primeiro que você tenha consciência de que ele existe. As vontade e capacidade de efetuar mudanças vêm depois.
Desse modo, precisamos nos questionar como sociedade se temos “consciência” de que temos graves problemas de segurança no Trânsito. Essa questão não é trivial. Já vimos em artigo anterior que mudar a cultura de um país é tarefa para gigantes. Afinal, o antigo Egito se manteve inalterado por uns três mil anos sob o domínio dos faraós. Mas mudanças são possíveis, sim.
A chave para a questão está na palavrinha consciência, do parágrafo anterior. É claro que há no país consciência quanto à gravidade dos problemas que enfrentamos quanto à insegurança no trânsito. De vez em quando o tema chega até aos editoriais dos grandes jornais (prefiro deixar de fora os noticiários das TVs, quando exploram acidentes com grande impacto emocional, perante a motivação dúbia dessas coberturas pretensamente jornalísticas; o que lhes interessa é a audiência). Agora, como mudanças não têm ocorrido com a velocidade necessária para de fato mitigar o problema (ou seja, aproximar a civilidade de nosso trânsito aos padrões de países mais avançados nesse aspecto), podemos afirmar que o grau de consciência coletiva no Brasil não atingiu massa crítica suficiente para induzir grandes alterações.
Para encerrar esta postagem, reproduzo, por sua coerência com a temática deste blog, parte de um Editorial recente de um grande jornal do estado de São Paulo. Voltarei a ele oportunamente:

Esse novo paradigma da ***** deverá ter reflexos importantes a médio prazo. Novas metas influenciarão os requisitos para ***** e a aplicação de medidas mais extremas, ***** sempre que (os problemas) *****.
"Agora temos um novo desafio", afirmou o secretário estadual *****, *****, que preside o *****. "Os padrões atuais são de ****. E são padrões, não metas como agora. É importante que as pessoas percebam que deve haver uma mudança de comportamento e cabe ao Estado ser o indutor das alterações para atingir essas metas." Na cidade de São Paulo, ** pessoas morrem por ano ***** (em função dos problemas).

Escrito por Paulo R. Lozano às 10:00 do dia 26/05/2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

As origens do caos


Esta é a segunda postagem do blog cuja temática denominei “Eu faço o trânsito civilizado”. Para efeitos de classificação o tema genérico deve ser “transporte e segurança”.     
Na primeira postagem descrevi experiência pessoal recente, quando testemunhei o estúpido atropelamento de um pedestre atravessando faixa de segurança com sinal verde a seu favor. Terminei o primeiro artigo citando Albert Einstein: INSANIDADE É ESPERAR POR RESULTADOS DIFERENTES AGINDO DO MESMO MODO TODOS OS DIAS.

Dirijo há quase cinqüenta anos e afirmo sem um mínimo de dúvidas pessoais que nesse meio século pouca coisa evoluiu na cultura brasileira em relação ao “sistema trânsito”. A palavra cultura na frase anterior não está grifada por acaso. “Cultura” ou “culturas” no âmbito de civilizações ou países (e mesmo em outros ambientes) não se alteram com facilidade, pelo menos jamais me defrontei com teses de antropólogos ou sociólogos tentando provar o contrário. Todavia, difícil não significa impossível.   
Acreditando em Einstein, se os RESULTADOS do sistema trânsito no Brasil pouco ou nada mudaram em meio século isso significa que nesse período, como sociedade, temos agido todos os dias essencialmente do mesmo modo. Se alguém alardear que os resultados têm mudado em função do muito que tem sido feito ou é insano ou é político. Evidências dessa realidade, muitas, serão apresentadas em postagens futuras.
Mas afinal, que RESULTADOS são esses? Refiro-me evidentemente aos resultados possíveis e previsíveis de um trânsito realmente civilizado: ordem e não caos, respeito pela vida e pelas pessoas, índices sempre decrescentes de acidentes, mortos e feridos, competência das autoridades, continuas evoluções institucionais e muitos outros. Os RESULTADOS do Brasil são bons? Tenho visto muita gente orgulhosa pelo fato de o Brasil ser considerado atualmente a oitava economia do mundo. Mas, se houvesse um índice mundial, neutro e preciso, de avaliação do “grau de civilidade no trânsito” que posição ocuparíamos? Oitava? Nem sonhando.
Vou terminar com um exemplo real. Até o início da década de sessenta o trânsito no Japão era tão ao mais caótico que o brasileiro de hoje. Em meados da década de setenta já era um dos mais, senão o mais disciplinado do mundo! O Japão (não me refiro ainda a quem ou como) decidiu num certo momento agir de modo diferente E OBTEVE RESULTADOS DIFERENTES. Melhores. Difícil não significa impossível.  
Escrito por Paulo R. Lozano às 20:25 do dia 25/05/2011

Trânsito civilizado


 
Foi a gota d’água. No dia 03 de maio de 2011, aproximadamente às 7:30 h da manhã parei em um semáforo exclusivo para pedestres que utilizam o corredor de ônibus da Avenida José Diniz, no sentido bairro, próximo à Ruas dos Brasões. Ironicamente eu ouvia no rádio o Secretário dos Transportes da cidade sendo entrevistado sobre certa medida que o poder público estava “iniciando”, com o propósito de conscientizar os motoristas a respeitar os pedestres. Quando o semáforo fechou eu era o terceiro da fila de carros e já estava bem parado quando, olhando pelo retrovisor externo vi uma motocicleta se aproximando sem a menor preocupação em diminuir sua velocidade, que era alta, perante o sinal vermelho já há alguns segundos. Em seguida o inevitável atropelamento e dois corpos caídos no asfalto, uma senhora de meia idade e o piloto. Detalhe: o motociclista não era um motoboy profissional.  
Por que o estardalhaço? Por que se preocupar com fato tão corriqueiro em São Paulo e no país? Veremos.
Continuando: estacionei num posto de combustível ao lado para tentar prestar socorro, mas quando cheguei ao local alguém já havia contatado o Resgate. A seguir presenciei algo que me assombrará para sempre.
Muitos já viram essa cena: segundos após algum acidente envolvendo motocicleta dezenas de motoqueiros param imediatamente e tomam conta da situação. Nada contra, se o propósito fosse sempre nobre, prestar socorro dentro dos limites da lei e do bom senso. Mas o que assisti não foi bem isso. Sem qualquer cuidado especial carregaram os feridos para o canteiro central da avenida, enquanto outro motoqueiro empurrava a moto acidentada para o mesmo posto de combustível em que parei. A intenção era clara: vamos limpar a cena do crime, deixar o trânsito fluir e não se fala mais nisso, ok?  
Como disse, essa foi a gota d’água e por isso estou iniciando esse blog. Tenho 67 anos e durante minha carreira profissional militei, voluntariamente, fora dos limites das empresas em que trabalhei em entidades ligadas ao setor automotivo e transporte. Segurança sempre foi minha maior preocupação. Mas sinto-me altamente frustrado com a contínua evolução da incivilidade em nossas ruas e estradas.

Este blog terá um alvo bem definido, como em breve ficará claro. Ao contrário do que possa parecer, face à história descrita acima, não será específico contra motocicletas e motoqueiros. Quero, sim, compartilhar minha experiência de vida, no Brasil e em outros países, sobre o tema genérico "trânsito civilizado”. Por que no Brasil as coisas nunca melhoram?

Isso veremos nos próximos artigos. Termino esta primeira postagem com uma citação de Einstein: INSANIDADE É ESPERAR POR RESULTADOS DIFERENTES AGINDO DO MESMO MODO TODOS OS DIAS!

Escrito por Paulo R. Lozano às 13:00 do dia 25/05/2011