Desapareceu!
Em
primeiro lugar, quero deixar claro que não é minha intenção politizar o
assunto, mas devo ser objetivo. Como “o exemplo vem de cima” é necessário
começar em Brasília e pelo poder executivo, por enquanto. Já escrevi várias
vezes em minhas postagens que nas altas esferas públicas ninguém tem
dado a devida prioridade à segurança e civilidade no trânsito, porém há um
partido político na presidência da república desde 2002. O que suas
administrações têm feito?
É
um fato, a PNT – Política Nacional de Trânsito – desapareceu. Escafedeu-se.
Exemplares estão perdidos em arquivos pdf escondidos em computadores
abarrotados (forneci um link na postagem anterior), ou em gavetas em vários
gabinetes ministeriais, onde ninguém se preocupa mais em lhes dar uma simples
“olhadinha”. “Substitutas” toscas estão em vigor (?), como veremos.
Mas
esse morto não foi sepultado. Temos o direito de cobrar os resultados que
ela (a política) se propunha a atingir. Resultados que não vieram. A PNT de
2004 não pode ser esquecida a menos que venha ser substituída por outra
mais ambiciosa. Navegar sem políticas definidas, sem objetivos e metas é
navegar sem GPS, sem cartas náuticas, sem radar, sem bússola. E é exatamente
isso que vem sendo feita pelas mais altas autoridades do país há uma década.Nessas alturas vale perguntar se a PNT de 2004 era boa. Qual é sua opinião, senhor colunista?
Bem,
pelo menos era uma Política. Prolixa talvez. Incompleta sem dúvida, mas bem
intencionada. Continha (na verdade contém!) objetivos e metas, como
convém às Políticas. Se tivesse sido seguida nestes últimos dez anos, se todos
os responsáveis pelo “sistema trânsito” brasileiro tivessem se orientado pelo
norte que a PNT apontava, as coisas estariam bem melhores hoje. Todavia, ela
TEM uma falha, uma séria falha: NÃO INCORPOROU AS RECOMENDAÇÕES DA ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE conforme estudo: World
Report on Road Traffic Injury Prevention. Tratei desse tema em algumas
postagens em junho de 2001. Vale relembrar um trecho de uma delas:
“Citei
novamente a ONU [OMS] em postagem do dia 08/06/2011, enfatizando o relatório de
2004 “World Report on Road Traffic Injury
Prevention” – WRRTIP, para o
qual, conforme relatei, o então presidente Lula contribuiu com uma mensagem no
prefácio. Disse ele: “As in other Latin American countries, there is a
growing awareness in Brazil as to the urgency of reversing this trend. The
Brazilian Government, through the Ministry of Cities, has put considerable
effort into developing and implementing road security, education campaigns and
programmes that emphasize citizen involvement”. Traduzindo: “Como em outros países da América Latina, existe uma crescente conscientização
no Brasil quanto à urgência em reverter essa tendência [a morte de 30 ~ 40 mil
pessoas por ano e outras conseqüências dos acidentes de tráfego]. O Governo
Brasileiro, através do Ministério das Cidades, tem realizado considerável
esforço em desenvolver e implantar a segurança nas vias, campanhas de educação
e
programas
que enfatizam o envolvimento dos cidadãos.” Vou me abster de analisar esse prefácio, mas devo
lembrar que como o resultado – reverter a
tendência urgentemente – não ocorreu, o mínimo que podemos concluir
é que o “considerável esforço” foi e continua sendo insuficiente e/ou
inadequado.”
E
continua não ocorrendo... E continua não havendo “crescente
conscientização no Brasil quanto à urgência em reverter essa tendência”; por parte dos executivos federal, estaduais e municipais; pelo
legislativo federal; por Procuradorias; por importantes associações de
classe, como OAB, CREA(s), ADC(s) e outras. Não há PROCON(s) para defender os
cidadãos conscientes contra o caos e barbáries no trânsito, provocados por
(muitos) motoristas inconsequentes e gestão de trânsito incompetente. A
Justiça, leis, juízes e tribunais continuam lenientes.
Bem, o que a PNT não
incluiu dos 26 pontos que o relatório WRRTIP
julgava prioritário como responsabilidade de governos?Neste momento apontarei apenas uma, a primeira recomendação, sem a qual nada mais funciona, lembrando, porém, que outras recomendações, importantíssimas, também não foram incorporadas. Mas alguém tem o direito de perguntar: “e daí, se essa tal Política como um todo foi abandonada?” A resposta: quando um governo mais competente e responsável decidir elaborar uma Política para valer, não pode se esquecer de começar pelo principal. Bem, aqui está a grande lacuna:
O que governos podem [devem] fazer
Desenvolvimento institucional:“Fazer da segurança no trânsito uma prioridade política”
Então
é isso que a ONU / OMS via WRRTIP
colocou em primeiro lugar. Em várias postagens anteriores procurei dissecar
essa questão. Por que a segurança (e civilidade) no trânsito não é motivo de
alta preocupação para governos (em todas as esferas), políticos e funcionários
públicos? Por que apenas ações isoladas aqui e ali, sem profundidade e
continuidade? Por que a sociedade não reage de modo contundente e contínuo?
Apesar do “novo” Código de Trânsito Brasileiro de 1997 continuamos sendo uma
sociedade imatura em matéria de trânsito, incapaz de enfrentar de modo eficaz
esse enorme flagelo e não há ninguém nos puxando a orelha.
Mas
vou voltar à insepulta Política Nacional de Trânsito de 2004, repetindo um
parágrafo que reflete a própria essência de minhas postagens:
2. POLÍTICA NACIONAL DE
TRÂNSITO
2.1. Marco Referencial
2.1.3.2. A cidadania, a
participação e a comunicação com a sociedade
Um
trânsito ruim e no limite criminoso, por falta de consciência dos seus perigos
e por falta de punição, aproxima-nos da barbárie e do caos. Por outro lado, um
trânsito calmo e previsível estabelece um ambiente de civilidade e de respeito
às leis, mostrando a internalização (sic) da norma básica da convivência
democrática: todos são iguais perante a lei e, em contrapartida, obedecê-la é
dever de todos.
Em próximas postagens veremos
objetivos e metas da PNT que não foram alcançados/alcançadas. Veremos que essa
é uma excelente razão para o governo federal ter “se esquecido” da Política que
ele mesmo criou. “Eu? Comprometer-me?”
Escrito por Paulo R. Lozano em 27 de
março de 2013
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