Álcool, Drogas e Rock-And-Roll – na Direção
Acho que
nunca apanhei tanto. Principalmente de amigos e parentes.
“Está louco?
Qual o problema de tomar uma ou duas latinhas de cerveja e dirigir meia hora
depois? Você nunca fez isso? Pra mim é a mesma coisa que tomar água...”.
Um primo
chegado me telefona: “Você sabe que há quarenta anos eu bebo e dirijo e nunca
me acidentei (não é bem verdade); quanto mais bebo, com mais cuidado dirijo
depois, basta ter consciência. Como você pode defender essa história de álcool
zero?”.
Minha
resposta veio na forma de um trecho de uma canção da MPB:
“Se todos fossem iguais a você,
Que maravilha
viver,”
Apesar dessa
pancadaria não mudo uma vírgula minha opinião registrada na última postagem: álcool
zero no corpo antes de segurar o volante e sair rodando.
Ninguém duvida que mudar hábitos sociais
arraigados é extremamente difícil, principalmente quando a sociedade não está
plenamente consciente de que eles são problemáticos e causam severas perdas à
própria sociedade.
Já ouvi
alguém dizer que beber (sempre no sentido de bebidas alcoólicas, é claro) é
mais antigo do que andar ereto. Pode ser verdade. Há vídeos divertidos
mostrando animais selvagens ingerindo com evidente prazer frutas caídas que
fermentam naturalmente, adquirindo certo teor alcoólico. Os bichos se fartam e saem
trançando as pernas. Com drogas é a mesma coisa, acho que todos conhecem a
história do pastor de cabras que descobriu como elas alteravam seu
comportamento depois de comer frutinhas vermelhas de uma árvore que hoje
se chama pé de café. Apreciar um estado mental alterado não é privilégio dos homens,
talvez porque ele alivie temporariamente o stress gerado pela incessante luta
pela sobrevivência. A arqueologia registra o consumo de álcool produzido
pelas sociedades primitivas desde uns 10.000 anos antes de Cristo. Os
portugueses se espantaram ao ver os “incivilizados” índios do Brasil alegres após
tomar uma bebida fermentada que chamavam de cauim. Era fraquinha, daí os
colonizadores passaram a fornecer aos índios uma forte bebida destilada chamada cachaça, o que os ajudou a conquistar o país mais
facilmente.
Álcool e
acidentes se confundem há milênios. Nos transportes, marinheiros bêbados
costumavam cair do alto das vergas, forçando com o tempo a criação de regras
para o consumo, aperfeiçoadas pela disciplina naval das marinhas de guerra. Nas
cidades, carroceiros alcoolizados espalhavam o terror.
As coisas só
pioraram quando, na era industrial, monstros de ferro começaram a rodar em
velocidades mais altas do que cavalos a galope, conduzidos por pessoas
alcoolizadas. As primeiras vítimas foram os trens, depois automóveis,
ônibus e caminhões. As fábricas também sofriam, com muitos acidentes nas máquinas
e baixa produtividade.
Mais uma vez pedindo
desculpas a Thomas Kuhn por continuar banalizando sua famosa frase, já passou da hora
de a humanidade “mudar de paradigma” quanto à interação álcool e veículos motorizados.
A única saída correta é a tolerância zero, mesmo contra a esmagadora maioria da
opinião pública – hoje.
Há poucas décadas
não existiam cintos de segurança e as crianças viajavam alegres pulando soltas dentro
do carro. Os pais não tinham consciência do perigo. O “paradigma” mudou. A questão da bebida também pode
mudar, trata-se nada mais nada menos do que uma adaptação cultural. Difícil, mas
tem de ser imposta. A fiscalização preventiva ideal exige a norma álcool zero.
Somente o fator
álcool deve matar pelo menos 20.000 brasileiros, a maioria jovem, por ano e fere
terrivelmente centenas de milhares. Isso tem de acabar. A individualidade tem de
se adaptar ao mundo e não o contrário.
15 de julho de
2013
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