segunda-feira, 15 de julho de 2013


Álcool, Drogas e Rock-And-Roll – na Direção


Acho que nunca apanhei tanto. Principalmente de amigos e parentes.

“Está louco? Qual o problema de tomar uma ou duas latinhas de cerveja e dirigir meia hora depois? Você nunca fez isso? Pra mim é a mesma coisa que tomar água...”.

Um primo chegado me telefona: “Você sabe que há quarenta anos eu bebo e dirijo e nunca me acidentei (não é bem verdade); quanto mais bebo, com mais cuidado dirijo depois, basta ter consciência. Como você pode defender essa história de álcool zero?”.

Minha resposta veio na forma de um trecho de uma canção da MPB:

“Se todos fossem iguais a você,

Que maravilha viver,”

Apesar dessa pancadaria não mudo uma vírgula minha opinião registrada na última postagem: álcool zero no corpo antes de segurar o volante e sair rodando.

 Ninguém duvida que mudar hábitos sociais arraigados é extremamente difícil, principalmente quando a sociedade não está plenamente consciente de que eles são problemáticos e causam severas perdas à própria sociedade.

Já ouvi alguém dizer que beber (sempre no sentido de bebidas alcoólicas, é claro) é mais antigo do que andar ereto. Pode ser verdade. Há vídeos divertidos mostrando animais selvagens ingerindo com evidente prazer frutas caídas que fermentam naturalmente, adquirindo certo teor alcoólico. Os bichos se fartam e saem trançando as pernas. Com drogas é a mesma coisa, acho que todos conhecem a história do pastor de cabras que descobriu como elas alteravam seu comportamento depois de comer frutinhas vermelhas de uma árvore que hoje se chama pé de café. Apreciar um estado mental alterado não é privilégio dos homens, talvez porque ele alivie temporariamente o stress gerado pela incessante luta pela sobrevivência. A arqueologia registra o consumo de álcool produzido pelas sociedades primitivas desde uns 10.000 anos antes de Cristo. Os portugueses se espantaram ao ver os “incivilizados” índios do Brasil alegres após tomar uma bebida fermentada que chamavam de cauim. Era fraquinha, daí os colonizadores passaram a fornecer aos índios uma forte bebida destilada chamada cachaça, o que os ajudou a conquistar o país mais facilmente.    

Álcool e acidentes se confundem há milênios. Nos transportes, marinheiros bêbados costumavam cair do alto das vergas, forçando com o tempo a criação de regras para o consumo, aperfeiçoadas pela disciplina naval das marinhas de guerra. Nas cidades, carroceiros alcoolizados espalhavam o terror.  

As coisas só pioraram quando, na era industrial, monstros de ferro começaram a rodar em velocidades mais altas do que cavalos a galope, conduzidos por pessoas alcoolizadas. As primeiras vítimas foram os trens, depois automóveis, ônibus e caminhões. As fábricas também sofriam, com muitos acidentes nas máquinas e baixa produtividade.

Mais uma vez pedindo desculpas a Thomas Kuhn por continuar banalizando sua famosa frase, já passou da hora de a humanidade “mudar de paradigma” quanto à interação álcool e veículos motorizados. A única saída correta é a tolerância zero, mesmo contra a esmagadora maioria da opinião pública – hoje.

Há poucas décadas não existiam cintos de segurança e as crianças viajavam alegres pulando soltas dentro do carro. Os pais não tinham consciência do perigo. O “paradigma” mudou. A questão da bebida também pode mudar, trata-se nada mais nada menos do que uma adaptação cultural. Difícil, mas tem de ser imposta. A fiscalização preventiva ideal exige a norma álcool zero.

Somente o fator álcool deve matar pelo menos 20.000 brasileiros, a maioria jovem, por ano e fere terrivelmente centenas de milhares. Isso tem de acabar. A individualidade tem de se adaptar ao mundo e não o contrário.

15 de julho de 2013

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