Festival de CPI(s)
De repente a moda é CPI. Por todo
o Brasil vereadores têm apresentado requerimentos para a instalação de CPI(s)
visando “abrir a caixa preta dos contratos com empresas de ônibus”. Caramba, só
agora?
O que pode eventualmente resultar
de concreto desse surto de patriotismo desinteressado dos edis brasileiros?
Eles que sempre contaram com fartas contribuições legais ou não, voluntárias ou
achacadas, para Caixa 1, Caixa 2 e Caixa 3 pessoal e dos partidos? Boa coisa não será. Remember Santo
André e Celso Daniel.
Provavelmente aqui e ali margens
de lucro serão apertadas (não tenho nada contra o lucro, pelo contrário, desde
que honesto). Temporariamente. Ao invés de melhorar, a qualidade do transporte
vai piorar ainda mais. Se apertados, os empresários vão economizar onde o
retorno é imediato: MANUTENÇÃO. No lugar de peças de segunda linha (como é
hoje), peças de terceira ou quarta linha. Sistemas de segurança serão ainda
mais comprometidos. Freios, direção, suspensão, iluminação e outros. Renovações
de frota serão adiadas. Contem com mais acidentes e mais ônibus
quebrando nas ruas...
Alguns municípios podem vir a estatizar
o sistema de transporte sobre pneus, ao exemplo de como era São Paulo com a
famigerada CMTC. Quem se importa? Quem se lembra a CMTC tinha uns vinte
funcionários (entre ativos e inativos) por ônibus contabilizado na frota – embora
metade não rodasse por dia, parados nas garagens sempre “em manutenção” – contra
quatro ou cinco funcionários em empresas privadas? Frota velha, remendada, mal
conservada, canibalizada pela falta de peças. Todos os carros trafegando bem
mais superlotados do que o que se vê atualmente e quebrando a três por dois,
atravancando o trânsito de então, que não era tão problemático como o de hoje. A
estatização é assim, de início parece funcionar bem, mas depois de alguns anos de
inevitáveis gestões políticas...
Estou defendendo os empresários?
Não. O que não defendo são os contratos mal elaborados e maliciosos, que
propiciam desvios de conduta que resultam em serviços ruins em relação ao que
foi teoricamente contratado. E ataco fortemente a conivência das autoridades
com os desvios de conduta – espertezas – perfeitamente fiscalizáveis que os empresários
cometem a fim de inflar seu faturamento “oculto”.
Provavelmente o órgão gestor do
transporte público municipal por ônibus mais bem organizado e competente no
país é a SPTRANS, de São Paulo (como o nome indica). Mesmo ele não consegue coibir
a maioria dos abusos, apesar das dezenas de milhares de multas que emite por
ano contra as empresas e consórcios que operam o transporte na cidade. Por quê?
Porque ao empresário compensa mais pagar as multas do que adequar seus
processos ao contratado. Essa prática virou norma no Brasil em quase todas as
grandes empresas de serviços: telefonia, energia, bancos, o que seja. Multas e
indenizações não tiram o sono de executivos e empresários.
Aguardo com certa ansiedade o
resultado dessas CPI(s) pós-movimentos de protesto nas ruas. Elas não vão
acabar em pizza não. Acabarão sim em pratos ruins e indigestos. Ao contribuinte
restará pagar a conta.
04/07/2013
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