segunda-feira, 24 de junho de 2013

Duas semanas que abalaram o Brasil


Difícil manter as postagens na situação que se instaurou no país. Decidi parar por uns dias, agora volto.
É grande a tentação de “entrar no clima” e escrever sobre o que está acontecendo, mas não farei isso. Escolhi uma temática para este blog e vou me ater a ela. Mas há paralelos.
Escrevo, basicamente, sobre desleixos generalizados dos poderes constituídos que eternizam a matança (evitável) de dezenas de milhares de brasileiros no trânsito todos os anos. Esse item não está nas listas de reivindicações populares contra desleixos de políticos sobre quase tudo, conforme tem sido visto em cartazes nas ruas, mas poderia estar, pois o estopim das manifestações estava ligado com o transporte coletivo, passagens caras para transporte ruim... Há clara conexão.
 
Falo sobre a necessidade de segurança nos transportes, individual e coletivo.
Transporte caro, ruim e... perigoso. Dois gravíssimos acidentes com ônibus no país na semana passada e nenhuma repercussão. Se fossem de aviões...
Deixando de lado outras preocupações, fico com a insatisfação do povo (com ou sem manifestações) com o transporte coletivo por ônibus. Para variar uso São Paulo como exemplo.
O sistema de transporte por ônibus na cidade é péssimo ou o urbanismo da cidade é péssimo para comportar um bom sistema de transporte por ônibus?
Ambos são verdadeiros e isso é valido para todas as regiões metropolitanas do Brasil. Pois nossa cultura política permanece no tempo dos burgos do século 17 (já escrevi sobre isso). Não temos a cultura do planejamento urbano metropolitano e muito menos estrutura legislativa de administração metropolitana.
O problema não é só das cidades, mas é também delas. Vi na última semana o prefeito Fernando Haddad anunciar muito constrangido a revogação do aumento de vinte centavos no preço da passagem de ônibus. Os investimentos da prefeitura serão prejudicados, alertou. Serão 200 milhões de reais a mais em subsídios ao transporte somente este ano, somando-se aos 1,25 bilhão previstos no orçamento, os quais serão abatidos de investimentos a serem escolhidos ainda...
Interessante a cultura política brasileira. Contra compromissos financeiros crescentes as receitas são sempre ou aumento de impostos ou cortes em investimentos públicos, que já são baixíssimos perante o que se arrecada. A última coisa que se ouve (aliás, acho que nunca ouvi) é governos anunciarem estudos sérios para cortar despesas em atividades MEIO, aquelas puramente burocráticas, que em tese servem para organizar e manter as atividades fim importantes – custeio direto da educação, da saúde, de segurança pública e todas as outras.  Há várias que nem para isso servem, como as de autopromoção publicitária.
Mas Haddad disse algo correto em si, o custo do sistema de transporte pode ser diminuído se sua produtividade aumentar. Ele prometeu aumentos de produtividade. Não vai conseguir.
O principal fator da pequena produtividade do transporte por ônibus, mais do que conhecido é a baixa velocidade média do trânsito em corredores ou não nos horários de pico (que já se emendam durante o dia). Por sinal, dizer que São Paulo possui verdadeiros corredores de ônibus é caridade, na verdade existem faixas exclusivas e olhe lá. E mal aproveitadas, devido ao excesso de linhas diferentes.
A velocidade média nos “corredores” e faixas atuais está limitada pelos fatores trânsito congestionado e restrições nos tempos de abertura dos faróis. Além de pontos de cruzamento entre faixas (vou chamá-las assim), os tempos não podem ser exageradamente aumentados sem que o congestionamento que se espalha pelas ruas vizinhas envenene de volta a faixa.
Para melhorar a eficiência será necessário investir muito e o que o prefeito anunciou é que investimentos em geral diminuirão (a menos que o governo federal ofereça às prefeituras um pacote de bondades pouco provável, perante a presente deterioração dos fundamentos econômicos do país). Como exemplo, cito a modernização do sistema de semáforos – que comentei em postagem de 05 de abril de 2013: o prefeito anunciou investimentos de 500 milhões de reais, com os quais a modernização dos 6 mil e tantos semáforos de Sampa custaria por unidade quatro vezes mais do que custou a modernização já efetuada dos 12 mil e tanto de Nova Iorque.  A esse custo é até bom que o projeto seja cancelado.
 
Os trabalhos do governo estadual em andamento de ampliação e modernização do transporte sobre trilhos demorarão a fazer efeito. Enquanto isso mais gente opta por motocicletas para ter uma opção de transporte e fugir dos congestionamentos. E os acidentes só aumentam.
24 de junho de 2013

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