Difícil manter as postagens na
situação que se instaurou no país. Decidi parar por uns dias, agora volto.
É grande a tentação de “entrar no
clima” e escrever sobre o que está acontecendo, mas não farei isso. Escolhi uma
temática para este blog e vou me ater a ela. Mas há paralelos.
Escrevo, basicamente, sobre
desleixos generalizados dos poderes constituídos que eternizam a matança (evitável)
de dezenas de milhares de brasileiros no trânsito todos os anos. Esse item não
está nas listas de reivindicações populares contra desleixos de políticos sobre
quase tudo, conforme tem sido visto em cartazes nas ruas, mas poderia
estar, pois o estopim das manifestações estava ligado com o transporte
coletivo, passagens caras para transporte ruim... Há clara conexão.
Falo sobre
a necessidade de segurança nos transportes, individual e coletivo.
Transporte caro, ruim e...
perigoso. Dois gravíssimos acidentes com ônibus no país na semana passada e
nenhuma repercussão. Se fossem de aviões...
Deixando de lado outras
preocupações, fico com a insatisfação do povo (com ou sem manifestações) com o
transporte coletivo por ônibus. Para variar uso São Paulo como exemplo.
O sistema de transporte por ônibus
na cidade é péssimo ou o urbanismo da cidade é péssimo para comportar um bom sistema de
transporte por ônibus?
Ambos são verdadeiros e isso é
valido para todas as regiões metropolitanas do Brasil. Pois nossa cultura
política permanece no tempo dos burgos do século 17 (já escrevi sobre isso).
Não temos a cultura do planejamento urbano metropolitano e muito menos
estrutura legislativa de administração metropolitana.
O problema não é só das cidades,
mas é também delas. Vi na última semana o prefeito Fernando Haddad anunciar
muito constrangido a revogação do aumento de vinte centavos no preço da
passagem de ônibus. Os investimentos da prefeitura serão prejudicados, alertou.
Serão 200 milhões de reais a mais em subsídios ao transporte somente este ano, somando-se aos
1,25 bilhão previstos no orçamento, os quais serão abatidos de investimentos a
serem escolhidos ainda...
Interessante a cultura política
brasileira. Contra compromissos financeiros crescentes as receitas são sempre
ou aumento de impostos ou cortes em investimentos públicos, que já são
baixíssimos perante o que se arrecada. A última coisa que se ouve (aliás, acho
que nunca ouvi) é governos anunciarem estudos sérios para cortar despesas em
atividades MEIO, aquelas puramente burocráticas, que em tese servem para
organizar e manter as atividades fim importantes – custeio direto da educação,
da saúde, de segurança pública e todas as outras. Há várias que nem para isso servem, como as de autopromoção publicitária.
Mas Haddad disse algo correto em
si, o custo do sistema de transporte pode ser diminuído se sua produtividade
aumentar. Ele prometeu aumentos de produtividade. Não vai conseguir.
O principal fator da pequena produtividade
do transporte por ônibus, mais do que conhecido é a baixa velocidade média do
trânsito em corredores ou não nos horários de pico (que já se emendam durante o
dia). Por sinal, dizer que São Paulo possui verdadeiros corredores de ônibus é
caridade, na verdade existem faixas exclusivas e olhe lá. E mal
aproveitadas, devido ao excesso de linhas diferentes.
A velocidade média nos
“corredores” e faixas atuais está limitada pelos fatores trânsito congestionado
e restrições nos tempos de abertura dos faróis. Além de pontos de cruzamento
entre faixas (vou chamá-las assim), os tempos não podem ser exageradamente
aumentados sem que o congestionamento que se espalha pelas ruas vizinhas envenene
de volta a faixa.
Para melhorar a eficiência será
necessário investir muito e o que o prefeito anunciou é que investimentos em
geral diminuirão (a menos que o governo federal ofereça às prefeituras um
pacote de bondades pouco provável, perante a presente deterioração dos
fundamentos econômicos do país). Como exemplo, cito a modernização do
sistema de semáforos – que comentei em postagem de 05 de abril de 2013: o
prefeito anunciou investimentos de 500 milhões de reais, com os quais a
modernização dos 6 mil e tantos semáforos de Sampa custaria por unidade quatro
vezes mais do que custou a modernização já efetuada dos 12 mil e tanto de Nova
Iorque. A
esse custo é até bom que o projeto seja cancelado.
Os trabalhos do governo estadual em andamento de ampliação e modernização do transporte sobre trilhos demorarão a fazer efeito. Enquanto isso mais gente opta por motocicletas para ter uma opção de transporte e fugir dos congestionamentos. E os acidentes só aumentam.
24 de junho de 2013