segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Faixas fatais - 4

Na postagem anterior mostrei algumas razões pelas quais as faixas para a travessia de pedestres nas ruas (e ainda mais em estradas) podem ser qualquer coisa menos “de segurança”. Citei anteriormente reportagens da “Veja São Paulo” de 29 de junho e do SBT de 28 de julho sobre o mesmo assunto. A questão que assombra qualquer um apavorado com a quantidade de atropelamentos que vem assolando o país há décadas nas faixas e fora delas não pode mais ser procurar causas, mas sim responder: o que fazer? Existe receita pronta, pois outros países solucionaram o problema partindo de níveis de incivilidade no trânsito comparáveis e até piores do que o nosso. Temos que fazer o que e como eles fizeram, não adianta querer re-inventar a roda. Fora desse caminho, que é conhecido, não há solução. Com imenso desânimo afirmo que o “sistema trânsito” em vigor no Brasil não nos permitirá esse luxo, não tão cedo.  

Há alguns anos cheguei a defender, como algumas autoridades de trânsito hoje, que medidas especiais poderiam ajudar. Por exemplo, fui um dos primeiros a propor a utilização de “calçadas sobre as ruas”. A idéia estava baseada no fato de que faixa tem que ser considerada calçada na rua. Descrevendo brevemente, era o seguinte: “elevações planas” seriam construídas nos cruzamentos de pedestres no nível das calçadas e com a largura das faixas, possuindo concordâncias de entrada e saída relativamente suaves para a passagem de veículos. Elas seriam de fato “extensões físicas de calçadas sobre as ruas”. A intenção seria educativa, pois com certa quantidade dessas faixas/calçadas espalhadas pela cidade, principalmente em cruzamentos sem semáforos, esse conceito “deveria” transmitir aos motoristas a noção correta de que faixa é calçada na rua.

Essa idéia está sendo utilizada em várias cidades, inclusive há algumas em São Paulo. Há pouco tempo a faixa/calçada foi regulamentada pelo DENATRAN. Mas confesso, mudei de opinião. Hoje tenho certeza que a difusão dessa idéia irá mais atrapalhar do que ajudar. Por quê?

Cheguei a essa conclusão ao me dar conta de como os motoristas de São Paulo se adaptaram à infeliz idéia das mini-rotatórias em cruzamentos. A partir da maneira tosca como as autoridades de trânsito implantam “soluções” aparentemente boas, como as mini-rotatórias, o resultado final é que os motoristas geram suas próprias interpretações de como a “coisa funciona”. Não, senhores autoridades de trânsito, não venham com a desculpa de que as regras são internacionais e conhecidas, que quem tirou carta “tem obrigação de saber”; vocês não são Juízes. Quem pensa assim é incompetente e irresponsável, melhor seria pegar o boné e ir embora. Aliás, provavelmente o inventor dessa medida em São Paulo já está longe (nota: a despeito dos erros grosseiros de implantação e enforcement, as mini-rotatórias diminuíram acidentes nos cruzamentos, mas isso é outra história, que fica para outra vez).

Completando esse exemplo, hoje tenho certeza que se algumas centenas de faixas/calçadas fossem espalhadas pela cidade (ou cidades) em poucos meses os motoristas teriam íntima certeza de que somente nelas (e nos locais com semáforo específico para pedestre) os pedestres têm prioridade. O efeito educativo seria nulo.

Por isso repito, não há o que e por que inventar. Faixa é faixa e ponto final. Nada de calçadas elevadas, de pedestre precisando levantar o braço ou gesticular, de “agentes” segurando bandeiras, ou de qualquer outra novidade. Faixas devem ser bem sinalizadas, colocadas em locais adequados, pintadas, mantidas e respeitadas. O resto é lixo.

Na próxima postagem termino esta série.

Escrito por Paulo R. Lozano às 22:00 horas do dia 01 de agosto de 2011

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