Manchete do Jornal “O Estado de São Paulo”, 25 de agosto de 2011: Violência no trânsito [somente na capital] custa [aos hospitais públicos - SUS] [um] hospital [R$56,7 milhões] por ano [dados de 2010]
Há novidade nisso? A Organização Mundial de Saúde / Banco Mundial estimava já em 2004 que o custo dos acidentes de trânsito, diretos e indiretos se situa entre 1% e 3% do PIB em quase todos os países do mundo. Países desenvolvidos têm menos acidentes em proporção à população, porém neles os custos pós-acidentes são bem mais elevados do que os vigentes em países menos desenvolvidos, portanto as porcentagens são comparáveis. Reparem que a notícia se refere às despesas do SUS, que mal cobrem (?) os custos dos tratamentos hospitalares e de reabilitação (lucros cessantes não estão contabilizados, nem perdas materiais). Como parcela dos acidentados possui planos de saúde e/ou recursos próprios é viável estimar que os custos reais são algumas vezes maiores por ano do que o mostrado acima. A mesma notícia informa que “os custos vêm aumentando desde 2008 apesar da lei seca”. Mas a razão básica para isso, sem dúvida, vem sendo o enorme crescimento da frota de motocicletas.
Permitam-me agora traduzir alguns parágrafos de um estudo sobre segurança no trânsito executado pela agência responsável de uma grande cidade. Começa: “Na década passada obtivemos um tremendo progresso na redução de fatalidades na cidade de ***. 2009 foi de fato o ano mais seguro desde que começamos a coletar registros em 1910. As fatalidades diminuíram 35% em relação a 2001” (nota: em 2001 as fatalidades já eram poucas em relação aos índices brasileiros).
O estudo contém o gráfico abaixo, no qual eu incluí São Paulo com dados do DENATRAN de 2006. Como já repeti inúmeras vezes, estatísticas brasileiras, além de desatualizadas não são confiáveis por várias razões; com certeza o índice de São Paulo está muito subestimado:
Dados de 2008, a menos de exceções indicadas
Não, infelizmente a cidade em questão não é São Paulo nem qualquer outra do Brasil. É New York, a qual tem uma população comparável à do município de São Paulo. Com um índice de fatalidades no trânsito de 3,49 em 2009, 256 mortos (dados confiáveis), é uma das cidades mais seguras do mundo. Como em São Paulo, aproximadamente metade dos mortos são pedestres e ciclistas, mas os números absolutos e relativos de fatalidades são incomparavelmente menores. O título do estudo, elaborado pelo “DOT” da cidade (Department of Transportation) é “THE NEW YORK CITY PEDESTRIAN SAFETY STUDY & ACTION PLAN”. O planejamento vai até o ano de 2030.
A primeira pergunta é: “como eles chegaram a este nível de civilidade no trânsito?”. A segunda pergunta é: “no Brasil há como seguir esse exemplo começando já e alcançar os índices novaiorquinos em poucos anos?”.
A resposta para a segunda pergunta é um sonoro não, devido à inexistência de prioridade política para a segurança no trânsito em todas as esferas do poder público e ao “sistema trânsito de fato” vigente, o qual, como vimos mais de uma vez, é complexo e está estatisticamente estável. Sistemas complexos estáveis geram “outputs” idem. Uma das razões está na resposta à primeira pergunta. New York tem sido um exemplo na aplicação de “enforcement” severo para tudo o que é relacionado com o respeito às leis nas ruas. O processo se acelerou num certo momento com a célebre “tolerância zero”. Cerca de quarenta mil policiais patrulham as ruas, dedicados à prevenção de todos os tipos de crimes e infrações. A prioridade é o crime, mas esses policiais não ignoram o trânsito. Por outro lado há uma brigada de “traffic enforcement” no departamento de polícia, a qual dá prioridade ao trânsito, mas não ignora outros delitos. Para complementar a fiscalização, o departamento de policia conta com uns sete mil agentes de trânsito civis. Eles se dedicam a orientação do trânsito e apontam algumas infrações, principalmente estacionamento ilegal. A engenharia de tráfego fica por conta do DOT.
Resumindo, em New York a AUTORIDADE policial esteve e está permanentemente nas ruas, e exerce sua autoridade com competência. Se não fosse assim não teria ocorrido a evolução vista abaixo.
Escrito por Paulo R. Lozano às 8:00 do dia 26 de agosto de 2011
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