terça-feira, 16 de agosto de 2011

O tamanho do problema

Certo interesse pelo assunto “desrespeito aos pedestres nas faixas de segurança” continua na Cidade de São Paulo dois meses após o início de programa do poder público municipal sobre a questão. Jornais e telejornais têm aberto espaços quase diariamente ao tema, cuja evolução interessa a todos. Nos últimos dias as manchetes e chamadas ressaltam os resultados divulgados pela CET, redução de 46% nos atropelamentos ocorridos nos 35 cruzamentos centrais escolhidos para comparação e o início das autuações executadas pelos agentes de trânsito.
Espero que mantenha-se constância de propósito nessa ação iniciada pela prefeitura e que ela se amplie, como disse na inserção do telejornal da segunda feira, 15 de agosto. E é preciso muito cuidado para evitar que os motoristas venham a interpretar essa boa iniciativa como mais uma na fila das “novas possibilidades de aumentar a arrecadação com multas”. Para tanto, a manutenção de campanhas de esclarecimento e melhorias perceptíveis no gerenciamento do trânsito são essenciais.  
Dediquei algumas postagens seguidas a esse tema pelo fato de no momento estar tão na berlinda em São Paulo, porém creio que elas podem ser encaradas genericamente, como exemplos de algumas situações que venho citando neste blog. Por exemplo, perante a anunciada redução de 46% nas ocorrências, alguém deveria se espantar? Pode ficar surpresa constatando que fiscalização funciona? De espantar, talvez, seja o fato de após décadas de negligência dos poderes públicos em exercer seu dever de fiscalizar com seriedade, os resultados gerais da incivilidade no trânsito e índices de acidentes não serem ainda piores, graças provavelmente ao comportamento médio do brasileiro, povo naturalmente pacífico e ordeiro. Os poderes públicos vêm falhando há décadas na educação, fiscalização e punições severas para a fração mais rebelde e indisciplinada de motoristas (sendo o último fator consequência do sistema legal/jurídico historicamente ineficiente e leniente,  não só no trânsito, do país).
   
Bem, vamos fazer algumas análises numéricas a respeito dos índices divulgados pela CET. Na área da cidade sob vigilância especial os atropelamentos, em números absolutos, caíram de 22 em 2010 para 8 em 2011 (nos mesmos meses). Sem dúvida é significativo. Por outro lado, as melhores informações disponíveis do Corpo de Bombeiros dão conta que 19 pedestres foram atropelados por dia nas ruas em São Paulo no ano passado. Estimando um índice de fatalidade de 10%, isso significa que 19 pessoas morreram atropeladas a cada 10 dias, o que confere com informações de outros órgãos apontando duas mortes por dia. Isso é uma barbaridade! Quantas eram crianças menores de 14 anos? Quantas eram idosos? Quantas possuíam deficiências? Ninguém sabe ao certo, mas estes são os que mais sofrem.  Os 22 casos registrados em 2010 em dois meses nos 35 cruzamentos monitorados representaram, então, 1,9 % dos prováveis atropelamentos da cidade no ano. O problema é que São Paulo tem mais de 11 milhões de habitantes, 16 mil quilômetros de ruas e avenidas, frota com mais de 4,6 milhões de automóveis, 720 mil motocicletas, 33 mil ônibus e 120 mil caminhões. Ah, e mais de 50 mil cruzamentos.     
Isso demonstra o tamanho do problema a ser enfrentado em São Paulo se a prioridade em longo prazo das autoridades realmente for diminuir significativamente a quantidade de pedestres atropelados.  E no Brasil?
Na próxima postagem vou mostrar alguns dados comparativos entre São Paulo e New York.
Nota: agradeço os gentis convites do SBT Jornalismo para as entrevistas das últimas semanas no jornal da manhã.    
Escrito por Paulo R. Lozano às 8:00 horas do dia 16 de agosto de 2011

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