Com alguma freqüência repito algo de postagens anteriores que se conectam bem à temática de um novo artigo. Sobre o “World Report on Road Traffic Injury Prevention” de 2004 registrei em postagem do dia 13/06/2011:
a) “De todos os sistemas a que as pessoas estão sujeitas em suas vidas diárias o transporte viário é o mais complexo e o mais perigoso.”
E, sobre o mesmo relatório, registrei em postagem do dia 24/06/2011:
b) Uma abordagem sistêmica
Uma ferramenta [eu diria filosofia] essencial à prevenção efetiva de [mortos e] feridos no trânsito é a adoção de uma abordagem sistêmica para:
— identificar problemas;
— formular estratégias;
— adotar metas;
— monitorar os resultados.
Não sei como realçar devidamente a importância dos pontos acima. O assim chamado pensamento sistêmico está dissecado em centenas de livros e trabalhos de eminentes autores, psicólogos, filósofos, gurus em administração e outros. Uma das razões para tantos estudos é o reconhecimento do fato de que é extremamente difícil perceber os componentes de sistemas complexos, entender as maneiras como interagem, e antever prováveis conseqüências. Se essas dificuldades já são grandes para indivíduos são ainda maiores coletivamente. As “respostas sistêmicas” (conseqüências, resultados...) ocorrem sempre com certo retardo; maior o retardo, maior a dificuldade em compreender corretamente o sistema. Exemplos interessantes das dificuldades da raça humana em entender sistemas complexos, – e interagir correta e responsavelmente com eles – são vistos nas questões ambientais. O buraco na camada de ozônio e as mudanças climáticas globais são típicos.
Nota: para os que se interessam por saber mais sobre o assunto recomendo a leitura de alguns capítulos do livro “The Fifth Discipline” de Peter Senge, referentes ao pensamento sistêmico. Há uma edição em português, porém (em minha opinião) a tradução é ruim.
Como, então, lidar com o “mais complexo dos sistemas”? Não por outra razão, os especialistas em trânsito responsáveis pela elaboração do WRRTIP e dos últimos relatórios referentes à década de ação apontam para a abordagem sistêmica não como o melhor, mas como sendo o único caminho.
Mas o Brasil já não gerencia um sistema de trânsito? A resposta é: depende. Depende da interpretação que dermos à palavra “sistema”:
1. Sim – sob o aspecto institucional legal o CTB define um “Sistema Nacional de Trânsito”. Em breve o veremos.
2. Mais ou menos – o sistema que realmente importa, o que está em operação no dia a dia de nossas cidades, ruas e estradas, o sistema real, este, como já dito, é extremamente fragmentado e fragilmente gerenciado. Posso assegurar que conforme o item (b) acima não temos uma abordagem sistêmica.
Para melhor ilustrar o ponto 2 irei em próximas postagens a outros trechos do “World Report on Road Traffic Injury Prevention”.
Finalizando, sempre vale repetir. Se o sistema real em operação no Brasil fosse eficaz, nossos resultados não seriam tão ruins.
Escrito por Paulo R. Lozano às 7:30 horas do dia 28/06/2011
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