Trata-se, simplesmente, de não reinventar a roda.
Nas próximas postagens vou me referir com frequência a planos e relatórios que citei em artigo do dia 26/05/2011 intitulado “A ONU e a segurança no trânsito”. Repito frase dessa postagem: “Antes de prosseguir com nossas análises, convém lembrar que recentemente a ONU, através de seu braço World Health Organization – WHO – (Organização Mundial da Saúde) lançou recentemente um “Plano Global” para fazer dos anos 2011 – 2020 a Década de Ação para a Segurança nas Vias [tradução livre de Global Plan for the Decade of Action for Road Safety 2011-2020]. A história não está descrita completamente no plano, mas os estudos que levaram a ele se iniciaram com a formação do comitê “The United Nations Road Safety Collaboration (UNRSC) em 2004. Isso porque, em 2004 a OMS e o Banco Mundial haviam publicado os resultados de uma pesquisa global que os dois organismos promoveram (primeiro estudo conjunto executado por eles) sobre a situação da (in)segurança no trânsito ao redor do mundo.”
Citei novamente a ONU em postagem do dia 08/06/2011, enfatizando o relatório de 2004 “World Report on Road Traffic Injury Prevention” – WRRTIP, para o qual, conforme relatei, o então presidente Lula contribuiu com uma mensagem no prefácio. Disse ele: “As in other Latin American countries, there is a growing awareness in Brazil as to the urgency of reversing this trend. The Brazilian Government, through the Ministry of Cities, has put considerable effort into developing and implementing road security, education campaigns and programmes that emphasize citizen involvement”. Traduzindo: “Como em outros países da América Latina, existe uma crescente conscientização no Brasil quanto à urgência em reverter essa tendência [a morte de 30 ~ 40 mil pessoas por ano e outras conseqüências dos acidentes de tráfego]. O Governo Brasileiro, através do Ministério das Cidades, tem realizado considerável esforço em desenvolver e implementar a segurança nas vias, campanhas de educação e programas que enfatizam o envolvimento dos cidadãos.” Vou me abster de analisar esse prefácio, mas devo lembrar que como os resultados – reverter a tendência urgentemente – não ocorreram, o mínimo que podemos concluir é que o “considerável esforço” foi e continuou sendo insuficiente e/ou inadequado.
Na verdade, se o governo Brasileiro tivesse adotado, pelo menos em parte, as recomendações de sua responsabilidade do WRRTIP de 2004, sem dúvida as coisas já estariam bem melhores. Todavia, qualquer analista que tenha acompanhado o desempenho brasileiro no quesito segurança no trânsito desde então, tem o direito de acreditar que esse relatório foi sequer lido por alguma autoridade de trânsito brasileira. Nunca vi uma tradução para o português.
Todavia, ele continha o mapa da mina.
Apesar de ter sido o primeiro passo da ONU até a proclamação recente da “década de ação para a segurança no trânsito”, ele já continha as principais diretrizes de ação. Não posso fazer a resenha de um Relatório de mais de 200 páginas, mas posso mostrar alguns pontos essenciais. Dois deles, em minha opinião eram e continuam sendo fundamentais: (1) Atribuía aos governos a maior parte da responsabilidade pelos maus resultados bem como a responsabilidade por reverter as tendências e, (2) Apontava como único caminho possível para melhoras significativas e rápidas uma “Abordagem Sistêmica” do problema (interessante que o acrônimo WRRTIP termine com as letras “TIP”, que significa dica em inglês). Termino esta postagem com um pequeno trecho traduzido do WRRTIP:
Uma abordagem sistêmica
Uma ferramenta [eu diria filosofia] essencial à prevenção efetiva de [mortos e] feridos no trânsito é a adoção de uma abordagem sistêmica (68) para:
— identificar problemas;
— formular estratégias;
— adotar metas;
— monitorar os resultados.
Os esforços no sentido [de se alcançar] a segurança no trânsito devem ser orientados por evidências, completamente avaliados, apropriadamente custeados e mantidos com continuidade.
Mais nos próximos capítulos.
Escrito por Paulo R. Lozano às 20:00 horas do dia 24/06/2011
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