Bem, continuamos agindo do mesmo modo todos os dias e, não surpreendentemente, obtendo os mesmos resultados. Apenas na região metropolitana de São Paulo dois ou três motoqueiros morrem diariamente; como nos anos anteriores, espera-se uns quarenta mil mortos em acidentes de trânsito em todo o país ao final do ano (mortes que ocorrem semanas após o acidente via de regra não são adicionadas às estatísticas); para cada morte, pode-se esperar até uns cinco feridos graves, que carregarão seu sofrimento pelo resto da vida), até dez feridos com relativa gravidade e até uns vinte com ferimentos menores, conforme estimativas internacionais; os prejuízos médicos e outros materiais decorrentes do status quo são imensos (lembrar que os feridos graves requererão assistência permanente) e os psicológicos simplesmente impossíveis de representar em números; iniciativas esporádicas são tomadas por autoridades aqui e ali visando minorar algumas condições mais críticas, porém quase nunca baseadas em constância de propósito.
Então, o “agindo do mesmo modo” significa: que a infraestrutura se altera pouco com o tempo, muitas vezes para pior; que a exposição absoluta ao risco continua crescendo a taxas elevadas (as frotas aumentam todos os anos e as de motocicletas e ciclomotores ainda mais); que o “enforcement” das leis e regulamentações é quase inexistente; que muitos motoristas continuam e continuarão dirigindo da mesma forma, ou seja, imprudentemente, agressivamente, alcoolizados ou drogados, desobedecendo leis e sinalizações, provocando inexoravelmente os acidentes que vemos todos os dias.
Conclusão: os culpados são os motoristas!
Ou, pelo menos, é isso que se houve sempre que autoridades são entrevistadas sobre o porquê de tantos acidentes e trânsito tão caótico e incivilizado.
A solução, para nossas autoridades? Campanhas educativas.
Afirmo que não foi assim que o Japão, bem como vários outros países, reduziu a incivilidade no trânsito. Num certo momento as autoridades de plantão pararam e realizaram um profundo exame de consciência: “conseguimos recuperar nossa economia depois da grande guerra; somos um país desenvolvido, com alta renda bruta e per capita; somos um país civilizado em quase tudo, mas não no trânsito; já tentamos campanhas educativas e pouco melhorou; o que devemos fazer diferentemente do que estamos fazendo a fim de civilizar rapidamente o trânsito?”.
Cabe aqui relembrar a citação que postei em 26/05/2011. Na verdade era uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo com um secretário estadual. O tema não era trânsito, daí as estrelas:
"Agora temos um novo desafio", afirmou o secretário estadual *****, *****, que preside o *****. "Os padrões atuais são de ****. E são padrões, não metas como agora. É importante que as pessoas percebam que deve haver uma mudança de comportamento e cabe ao Estado ser o indutor das alterações para atingir essas metas." Na cidade de São Paulo, ** pessoas morrem por ano ***** [em função dos problemas].
Este Secretário foi ao âmago da questão: “é importante que as pessoas percebam que deve haver uma mudança de comportamento e cabe ao Estado ser o indutor das alterações para atingir essas metas. ”
Essa é realmente função do Estado! Todavia, há um porém que ele não enfatizou: cabe também ao Estado induzir mudanças em si mesmo, quando seus sistemas se mostram inadequados e insuficientes para que os resultados (melhorias) ocorram com a velocidade necessária. Foi exatamente isso que ocorreu no Japão, lá os governantes introduziram profundas mudanças em seus sistemas e não foram apenas legislativas!
Será que a cultura política brasileira possibilita esse tipo de exame de consciência dentro de seus intestinos?
Escrito por Paulo R. Lozano às 12:00 do dia 03/06/2011
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