sexta-feira, 3 de junho de 2011

O culpado é o motorista

Então, aqui estamos na metade de 2011. Como as coisas estão indo?
Bem, continuamos agindo do mesmo modo todos os dias e, não surpreendentemente, obtendo os mesmos resultados. Apenas na região metropolitana de São Paulo dois ou três motoqueiros morrem diariamente; como nos anos anteriores, espera-se uns quarenta mil mortos em acidentes de trânsito em todo o país ao final do ano (mortes que ocorrem semanas após o acidente via de regra não são adicionadas às estatísticas); para cada morte, pode-se esperar até uns cinco feridos graves, que carregarão seu sofrimento pelo resto da vida), até dez feridos com relativa gravidade e até uns vinte com ferimentos menores, conforme estimativas internacionais; os prejuízos médicos e outros materiais decorrentes do status quo são imensos (lembrar que os feridos graves requererão assistência permanente) e os psicológicos simplesmente impossíveis de representar em números; iniciativas esporádicas são tomadas por autoridades aqui e ali visando minorar algumas condições mais críticas, porém quase nunca baseadas em constância de propósito.       
Então, o “agindo do mesmo modo” significa: que a infraestrutura se altera pouco com o tempo, muitas vezes para pior; que a exposição absoluta ao risco continua crescendo a taxas elevadas (as frotas aumentam todos os anos e as de motocicletas e ciclomotores ainda mais); que o “enforcement” das leis e regulamentações é quase inexistente; que muitos motoristas continuam e continuarão dirigindo da mesma forma, ou seja, imprudentemente, agressivamente, alcoolizados ou drogados, desobedecendo leis e sinalizações, provocando inexoravelmente os acidentes que vemos todos os dias.  

Conclusão: os culpados são os motoristas!
Ou, pelo menos, é isso que se houve sempre que autoridades são entrevistadas sobre o porquê de tantos acidentes e trânsito tão caótico e incivilizado.
A solução, para nossas autoridades? Campanhas educativas.
Afirmo que não foi assim que o Japão, bem como vários outros países, reduziu a incivilidade no trânsito. Num certo momento as autoridades de plantão pararam e realizaram um profundo exame de consciência: “conseguimos recuperar nossa economia depois da grande guerra; somos um país desenvolvido, com alta renda bruta e per capita; somos um país civilizado em quase tudo, mas não no trânsito; já tentamos campanhas educativas e pouco melhorou; o que devemos fazer diferentemente do que estamos fazendo a fim de civilizar rapidamente o trânsito?”.
Cabe aqui relembrar a citação que postei em 26/05/2011. Na verdade era uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo com um secretário estadual. O tema não era trânsito, daí as estrelas:
"Agora temos um novo desafio", afirmou o secretário estadual *****, *****, que preside o *****. "Os padrões atuais são de ****. E são padrões, não metas como agora. É importante que as pessoas percebam que deve haver uma mudança de comportamento e cabe ao Estado ser o indutor das alterações para atingir essas metas." Na cidade de São Paulo, ** pessoas morrem por ano ***** [em função dos problemas].
Este Secretário foi ao âmago da questão: “é importante que as pessoas percebam que deve haver uma mudança de comportamento e cabe ao Estado ser o indutor das alterações para atingir essas metas.  
Essa é realmente função do Estado! Todavia, há um porém que ele não enfatizou: cabe também ao Estado induzir mudanças em si mesmo, quando seus sistemas se mostram inadequados e insuficientes para que os resultados (melhorias) ocorram com a velocidade necessária. Foi exatamente isso que ocorreu no Japão, lá os governantes introduziram profundas mudanças em seus sistemas e não foram apenas legislativas!
 Será que a cultura política brasileira possibilita esse tipo de exame de consciência dentro de seus intestinos?
Escrito por Paulo R. Lozano às 12:00 do dia 03/06/2011

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