quarta-feira, 22 de junho de 2011

Segurança ou civilidade

Lendo postagens anteriores, alguém pode achar estranho o fato de eu insistir no termo “civilidade” e não “segurança” no trânsito. Tenho minhas razões.

Civilidade deve ser o objetivo principal; segurança é conseqüência direta e indissociável. Há raras situações onde as pessoas interagem tão ampla e intensamente hoje como no trânsito. Todos com todos. Automóveis, caminhões e ônibus (com seus motoristas e passageiros), motocicletas e bicicletas (com seus pilotos) e finalmente pedestres (todas as pessoas, em algum momento), de vários modos esses elementos são forçados a conviver em espaços limitados, principalmente nas grandes cidades. Calçadas (quando existem e são transitáveis), ruas, estradas, acostamentos (quando existem), são como um único rinque onde lutadores de todas as categorias estão em contato direto, muitas vezes brigando entre si em condições absurdamente desiguais. Peso-mosca contra peso-pesado. Não pode dar certo.         

Nossa herança genética sem dúvida é tribal e bem diferente da de animais caçadores pouco ou nada cooperativos, como alguns grandes felinos. Por outro lado, estamos longe, muito longe da cooperatividade social alcançada por certas espécies de insetos, como abelhas e formigas. O diabo é que em poucos séculos, o próprio sucesso da raça humana nos privou da vida tribal e vem nos impondo exponencialmente o estilo abelha de conviver. Na marra. Vinte milhões de pessoas nos poucos quilômetros quadrados da grande São Paulo... E o pior é que vivemos em duas dimensões, não nos movimentamos verticalmente como pássaros e peixes.   

Daí a imperativa necessidade da civilidade, baseada na racionalidade. A história é a prova viva de como tem sido difícil nos aproximar do estilo abelha de convívio social, quando não somos programados geneticamente para tanto. Nesse aspecto, a tecnologia pouco tem ajudado e nem lhe cabe o papel fundamental, embora haja ainda muito campo para fazermos melhor uso dela em apoio à evolução da civilidade no convívio social, especialmente no trânsito.

Sim, no trânsito, pois este é o lugar ideal para se desenvolver a civilidade. Aumentar as competências na gestão do sistema trânsito por parte das autoridades (o sistema real, e não e idealizado em leis ou códigos) e o grau de aderência às normas legais ou, preferencialmente, da boa educação por parte dos usuários do sistema, é uma maneira, talvez a melhor, de melhorar o grau de civilidade do país como um todo. Se sou civilizado no trânsito, com certeza também o sou em outros contextos sociais. POR OUTRO LADO, A RECÍPROCA É TOTALMENTE VERDADEIRA. Quem passa por cima de todos no trânsito não deve ter o menor pudor em infringir outras regras sociais ou as leis do país. E vice-versa, e vice-versa.

Sendo honesto comigo mesmo, admito que ao longo de meus 50 anos dirigindo por todo o Brasil e principalmente na cidade de São Paulo percebo certa melhoria relativa (porcentual) em “certos” aspectos do ato de conviver com os outros no trânsito. É muito provável que essas mudanças venham ocorrendo de modo mais forçado do que voluntário, em função do entupimento das vias por milhões de veículos. Mas esse fator está longe de ser suficiente para civilizar o trânsito brasileiro. Infelizmente, a quantidade absoluta de motoristas incivilizados vem crescendo enormemente e mesmo que eles sejam apenas fração do total o efeito nefasto que provocam é terrível. Voltaremos a esse tema adiante.  

Na próxima postagem vou voltar aos três pilares da civilidade.

Escrito por Paulo R. Lozano às 7:30  do dia 22/06/2011

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