Um Boeing por dia
“De 1o de janeiro até 20 de
maio de 2013, em 140 dias apenas, no ano em que o Brasil sediará a Copa das
Confederações, morreram em acidentes de trânsito entre 16 e 23 mil pessoas e em torno de 130
mil sofreram ferimentos”.
Esta frase está na postagem do último dia
20 de maio. A depender da fonte de dados
que se escolha, entre 114 e 164 pessoas morrem POR DIA no Brasil vítimas de acidentes
de trânsito. O número exato não importa, pode ser até maior do que os 164, o que
importa é que essas mortes, na grande maioria EVITÁVEIS, passam praticamente despercebidas
pela sociedade e governo. E estão aumentando. Como pode?
As duas grandes empresas de transporte
aéreo doméstico do país, GOL e TAM, utilizam aviões bastante parecidos, da Boeing
e da Airbus. Os Boeing 737 800 e Airbus A 320 transportam cerca de 180 passageiros
e dez tripulantes, em torno de 190 almas a bordo com o avião lotado. O índice médio
de ocupação tem sido de 76%. Assim, podemos considerar que cada voo, em média, transporta
147 almas. Se um desses Airbus ou Boeing se acidentasse POR DIA teríamos provavelmente
147 vítimas POR DIA, mas não todos mortos. A fatalidade em acidentes de aviação
é alta, mas não é de 100% como alguns pensam; depende muito do tipo de acidente.
Um exemplo: em 1989 um Boeing 737 da VARIG tomou o rumo errado por falha humana
de navegação. O combustível acabou e o avião fez um pouso forçado na selva. Dos
54 ocupantes 41 sobreviveram e foram resgatados dois dias depois do acidente. Vou
supor, então, um índice de mortalidade de 80% nos acidentes de aviação, o que redundaria
em 115 mortes por dia.
A conclusão dessa comparação é que se um
Boeing ou Airbus se acidentasse todos os dias do ano morreria menos gente nesses
acidentes do que os que estão morrendo em acidentes de trânsito!
Qual seria a reação da sociedade perante
o fato de um grande avião se acidentar a cada novo dia? Como o governo
seria pressionado pela sociedade? Quantos dias diretores da ANAC (agência reguladora
da aviação civil) sobreviveriam no cargo? E ministros ligados ao transporte aéreo?
Qual seria o conteúdo dos noticiários das grandes redes de TV? E o dos jornais ou
revistas semanais? Qual seria a reação de órgão públicos responsáveis por auditorias
e fiscalizações, como TCU e Ministério Público? Ou mesmo do Congresso Nacional?
Bem, é claro que essa situação é totalmente hipotética,
pois depois de quarto ou quinto acidente seguido ninguém mais embarcaria nesses
aviões, mas a analogia continua válida.
É INACREDITÁVEL E INACEITÁVEL QUE OS GOVERNANTES
BRASILEIROS NÃO PERCEBAM QUE O FATO DE NOSSO TRÂNSITO MATAR ENTRE 114 E 164 ALMAS
POR DIA SEJA ALGO TOTALMENTE ABSURDO. ELES FAZEM DE CONTA QUE NÃO ESTÃO VENDO ESSA
CARNIFICINA. ELES NÃO ESTÃO FAZENDO NADA DE DIFERENTE PARA DIMINUÍ-LA. NEM TENTANDO.
ELES TÊM UMA LISTA ENORME DE “OUTRAS PRIORIDADES” COM QUE SE PREOCUPAR...
A quantidade de mortos no trânsito hoje
é também comparável com a provocada pela violência, Mas há uma diferença fundamental
entre elas: acidentes de trânsito são bem mais facilmente evitáveis e controláveis
do que a violência. Por outro lado, a violência,
como os acidentes de aviação, provoca maior impacto emocional na população do que
as mortes difusas em acidentes de trânsito.
Conforme Joseph Goebbels dizia: 60.000
mortes num ano não é um massacre, é uma estatística. Nossos governantes assimilaram
essa lição.
Escrito por Paulo R. Lozano em 22 de maio
de 2013
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