quarta-feira, 22 de maio de 2013


Um Boeing por dia

“De 1o de janeiro até 20 de maio de 2013, em 140 dias apenas, no ano em que o Brasil sediará a Copa das Confederações, morreram em acidentes de trânsito entre 16 e 23 mil pessoas e em torno de 130 mil sofreram ferimentos”. 

Esta frase está na postagem do último dia 20 de maio.  A depender da fonte de dados que se escolha, entre 114 e 164 pessoas morrem POR DIA no Brasil vítimas de acidentes de trânsito. O número exato não importa, pode ser até maior do que os 164, o que importa é que essas mortes, na grande maioria EVITÁVEIS, passam praticamente despercebidas pela sociedade e governo. E estão aumentando. Como pode?

As duas grandes empresas de transporte aéreo doméstico do país, GOL e TAM, utilizam aviões bastante parecidos, da Boeing e da Airbus. Os Boeing 737 800 e Airbus A 320 transportam cerca de 180 passageiros e dez tripulantes, em torno de 190 almas a bordo com o avião lotado. O índice médio de ocupação tem sido de 76%. Assim, podemos considerar que cada voo, em média, transporta 147 almas. Se um desses Airbus ou Boeing se acidentasse POR DIA teríamos provavelmente 147 vítimas POR DIA, mas não todos mortos. A fatalidade em acidentes de aviação é alta, mas não é de 100% como alguns pensam; depende muito do tipo de acidente. Um exemplo: em 1989 um Boeing 737 da VARIG tomou o rumo errado por falha humana de navegação. O combustível acabou e o avião fez um pouso forçado na selva. Dos 54 ocupantes 41 sobreviveram e foram resgatados dois dias depois do acidente. Vou supor, então, um índice de mortalidade de 80% nos acidentes de aviação, o que redundaria em 115 mortes por dia.

A conclusão dessa comparação é que se um Boeing ou Airbus se acidentasse todos os dias do ano morreria menos gente nesses acidentes do que os que estão morrendo em acidentes de trânsito!

Qual seria a reação da sociedade perante o fato de um grande avião se acidentar a cada novo dia? Como o governo seria pressionado pela sociedade? Quantos dias diretores da ANAC (agência reguladora da aviação civil) sobreviveriam no cargo? E ministros ligados ao transporte aéreo? Qual seria o conteúdo dos noticiários das grandes redes de TV? E o dos jornais ou revistas semanais? Qual seria a reação de órgão públicos responsáveis por auditorias e fiscalizações, como TCU e Ministério Público? Ou mesmo do Congresso Nacional?

 Bem, é claro que essa situação é totalmente hipotética, pois depois de quarto ou quinto acidente seguido ninguém mais embarcaria nesses aviões, mas a analogia continua válida.

É INACREDITÁVEL E INACEITÁVEL QUE OS GOVERNANTES BRASILEIROS NÃO PERCEBAM QUE O FATO DE NOSSO TRÂNSITO MATAR ENTRE 114 E 164 ALMAS POR DIA SEJA ALGO TOTALMENTE ABSURDO. ELES FAZEM DE CONTA QUE NÃO ESTÃO VENDO ESSA CARNIFICINA. ELES NÃO ESTÃO FAZENDO NADA DE DIFERENTE PARA DIMINUÍ-LA. NEM TENTANDO. ELES TÊM UMA LISTA ENORME DE “OUTRAS PRIORIDADES” COM QUE SE PREOCUPAR...

A quantidade de mortos no trânsito hoje é também comparável com a provocada pela violência, Mas há uma diferença fundamental entre elas: acidentes de trânsito são bem mais facilmente evitáveis e controláveis do que a violência.  Por outro lado, a violência, como os acidentes de aviação, provoca maior impacto emocional na população do que as mortes difusas em acidentes de trânsito.   

Conforme Joseph Goebbels dizia: 60.000 mortes num ano não é um massacre, é uma estatística. Nossos governantes assimilaram essa lição.

 

Escrito por Paulo R. Lozano em 22 de maio de 2013

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