Nesta postagem sigo com um tema mais específico. Se há algo que revela em toda a sua plenitude a incivilidade do trânsito brasileiro é o eterno problema do desrespeito às travessias de pedestres. É provável que o tema requeira duas ou três postagens (por enquanto).
Comecei este blog no dia 26 de maio de 2011. No dia 03 eu havia testemunhado um atropelamento numa faixa exclusiva de pedestres com o semáforo vermelho para os veículos. Esse foi o tema da primeira postagem do blog. No fim de semana vi, surpreso pela coincidência, extensa reportagem na “Vejinha” com o título: O desafio da FAIXA DE PEDESTRES. Boa reportagem dessa excelente revista que leio quase todas as semanas. Todavia, em relação à linha deste blog, devo mencionar dois aspectos, não propriamente críticas, mas fatos que comprovam o que tenho dito em postagens anteriores: (i); Entendo a razão de Veja ter explorado o tema na Vejinha local, uma vez que estava comentando ações de autoridades locais, porém a incivilidade no trânsito é um enorme problema nacional. Quantos turistas estrangeiros serão atropelados no Brasil durante a Copa? (ver postagem de 19/07/2011). (ii) Coberturas esporádicas de problemas no trânsito pela mídia (não lhes nego a importância) têm sido insuficientes para mobilizar a população e mais ainda as autoridades. Tanto isso é verdade que a própria reportagem da Vejinha cita um bom exemplo vindo de Brasília, onde um jornal, o Correio Brasiliense patrocinou longa e insistente campanha contra os desmandos nas faixas, em reportagens de primeira página e vários editoriais. Só assim as autoridades sentiram alguma pressão e deram prioridade política ao problema. Em Brasília o problema diminuiu, mas se as autoridades baixarem a guarda no enforcement os abusos voltarão. Essa é a natureza humana, infelizmente.
Voltemos então às faixas de segurança. A melhor definição que conheço sobre o que é uma faixa de segurança é: “uma extensão da calçada na rua”. Em outras palavras, rua com faixa pintada deixa de ser rua e passa a ser calçada, por onde veículos podem passar com cuidado; ou deveria ser. Mas há motoristas que não respeitam nem calçadas! Retornarei a esse tema.
Por que no Brasil as faixas, há décadas, não passam de simples “sinalizadores horizontais”? Em grande parte a resposta está descrita em postagens anteriores, (a) absoluta ausência de enforcement; (b) irresponsabilidade das autoridades responsáveis pelo enforcement. Acrescento mais uma, importante: desatualização das autoridades de trânsito sobre gestão técnica [de trânsito]. Se nas maiores cidades é assim, imaginem nas pequenas.
Já citei a curiosa atitude dos brasileiros que dirigem no exterior e que em poucos minutos se adaptam às regras, inclusive parando antes da faixa quando um pedestre “ameaça” atravessá-la; citei também o exemplo inverso, dos estrangeiros que vêm morar aqui e em poucas semanas passam a dirigir como os brasileiros, ou seja, caçando pedestres nas faixas. Isso tudo sem falar das motocicletas.
Aí, as autoridades dizem que o pedestre é mal educado, não atravessa nas faixas. Se for assim eu sou mal educado. Sempre que possível, em ruas sem semáforos para pedestres, atravesso o mais longe possível dos cruzamentos, quando vejo distância segura dos veículos mais próximos vindo em minha direção. Já escapei por pouco de vários atropelamentos em faixas e creio que não sou o único.
Por que pedestres muitas vezes evitam faixas? Vejamos:
· Cruzamentos com semáforos com sinais para pedestres: pedestres não têm segurança 100%; os tempos de travessia são insuficientes e o tempo de espera é muito longo; se o sinal de pedestres começa a piscar antes de alguém completar a travessia, veículos avançam imediatamente, em desrespeito explícito ao CTB; alta porcentagem de motociclistas ignora as faixas (primeira postagem neste blog); mas há também abusos por parte de pedestres e contra isso provavelmente jamais alguém viu uma autoridade de trânsito parar, advertir ou multar um no Brasil. Eu não vi. Mas esse não é o maior problema.
· Cruzamentos com semáforos sem sinais para pedestres: terrivelmente perigosos; motoristas com sinal verde à frente, virando para a direita ou para a esquerda (manobras nem sempre permitidas) avançam sem a menor preocupação com pedestres na faixa. Ao testar minha "preferência" em vários locais geralmente recebia impropérios de motoristas: “da vontade de matar o fdp”. Sem nenhum exagero. Ignorância? Não, esse é o “hábito” do motorista brasileiro, um terrível desvio de conduta coletivo que se consolidou com o tempo por absoluta falta de enforcement, incompetência e irresponsabilidade das autoridades de trânsito e seus superiores, até o nível mais alto, os eleitos pelo povo! As faixas perigosas são normalmente as da rua transversal à que está com o sinal aberto, mas há também quantidade incrível de veículos que avançam o sinal vermelho, principalmente logo após a mudança.
· Cruzamentos sem semáforo: sem comentários
Continua.
Escrito por Paulo R. Lozano às 21:00 horas do dia 26 de julho de 2011
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