Com uma pausa de poucos dias volto ao ponto em que havia parado. Quem é irresponsável no trânsito brasileiro? Erra quem diz serem somente os motoristas.
É gritante a irresponsabilidade de autoridades – normalmente em níveis acima das diretas – que teriam legal e moralmente a obrigação de ASSEGURAR enforcement no trânsito. Em qualquer país do mundo sem enforcement amplo, firme e permanente abusos acontecem. E não encontro explicações para o porquê do conformismo da sociedade civil organizada com relação a esse fato. Esta, a sociedade civil organizada, incluindo a mídia, não tem dado a atenção devida ao massacre que ocorre todos os dias em nossas ruas e estradas e não tem notado que enorme parte do problema se deve à inexistência de enforcement. Ressalto a palavra inexistência porque o enforcement a que me refiro não significa mecanismos eletrônicos automáticos de fiscalização, pelo contrário.
Existem reações, sim, como já citei anteriormente, mas elas são esporádicas e insuficientes. Se há elementos na sociedade civil com poder suficiente de mobilização, apontando permanentemente as grandes falhas do sistema e omissões das autoridades, eles não estão conseguindo expor a dramaticidade da situação. Esses mesmos elementos caso existissem poderiam, por outro lado, apontar, aplaudir e até premiar bons exemplos. Consequentemente, as maiores autoridades não dão prioridade política ao problema e nem se sentem responsáveis pelas consequências.
Em sendo assim, o sistema trânsito continuará estável e suas consequências idem.
Já citei que a aplicação pura e simples de mais fiscalização automática como tem sido feito é contraproducente, pois tem o condão de aumentar o grau de desconfiança da população com relação à verdadeira intenção das autoridades. Vem daí a percepção sobre a indústria da multa, a revolta, e a realimentação de abusos. Não há nenhum enforcement de percurso. Não há a presença importantíssima da autoridade fazendo o que deveria fazer. Não há percepção (por que será) de que as autoridades estão investindo o que podem e devem, permanentemente, na manutenção e melhorias técnicas dos sistemas viários e de sinalização e controle. Para quem conhece o trânsito de países civilizados, então, as diferenças são chocantes.
Mas afinal, ninguém faz nada? Bem, quase. Já dissemos que o CTB municipalizou o trânsito. Nada mais natural, portanto, que secretários e autoridades nomeadas politicamente em agências municipais de trânsito queiram deixar sua marca ao fim de um ou dois anos no exercício do poder. Assim, vemos iniciativas isoladas aqui e ali, as quais raramente se mantêm com constância de propósito ao longo do tempo.
Exemplos são abundantes. Em São Paulo, por exemplo, já vimos vários “programas” de secretários de transporte e presidentes da CET, mas nunca de prefeitos! Algumas campanhas, mini-rotatórias nos cruzamentos, hoje quase abandonadas (mal implantadas e sinalizadas e, em muitos cruzamentos, as faixas de pedestres foram removidas), inviáveis “pistas cidadãs” para motocicletas, como na congestionadísssima Avenida Rebouças, e outras. O tema atual é a travessia de pedestres, importantíssimo, mas que somente o tempo revelará se será de fato iniciativa permanente e eficaz. Comentarei temas técnicos como esses em futuras postagens.
Estimativas referentes a acidentes de trânsito no Brasil desde 01/01//2011, incluindo atropelamentos:
Mortos: > 20.500; Feridos: > 205.000; Feridos muito graves: > 102.500
Quem são os irresponsáveis?
Escrito por Paulo R. Lozano às 08:00 horas do dia 25/07/2011
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