Informei que está em gestação em Brasília uma nova Política Nacional de Trânsito. Por quê? Porque o Brasil, membro importante da ONU não pode se furtar a aderir a certas iniciativas desse organismo como, por exemplo, procurar atingir metas de ação importantes para a evolução social mundial, propostas após intensos estudos por organismos subordinados (como a FAO, por exemplo) e aprovadas em Assembléias Gerais, como a redução da pobreza, a segurança alimentar ou melhorias na educação básica. Desejando ardentemente ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança, o Brasil precisaria dar um bom exemplo e estar sempre na linha de frente quanto à implantação dessas e outras iniciativas.
Repetindo parte de postagem do dia 26/05/2011, informei que a ONU na Assembléia Geral de março de 2010 declarou os anos 2011 a 2020: “Década de Ação para a Segurança nas Vias (tradução livre de Global Plan for the Decade of Action for Road Safety 2011-2020). A história não está descrita completamente no plano, mas os estudos que levaram a ele se iniciaram com a formação do comitê “The United Nations Road Safety Collaboration (UNRSC) em 2004. Isso porque, em 2004 a OMS e o Banco Mundial haviam publicado os resultados de uma pesquisa global que os dois organismos promoveram... sobre o “status” da (in)segurança no trânsito ao redor do mundo. Como podemos adivinhar, esses resultados eram catastróficos, em valores materiais e principalmente em sofrimento humano. A WHO passou a considerar desde então a questão dos mortos e feridos no trânsito um sério problema de saúde pública, comparável a doenças graves, e classificou-a como pandemia”.
Na verdade poucos países deram bola ao relatório de 2004 e suas recomendações, inclusive o Brasil, que participava diretamente do mesmo com mensagem no prefácio de nosso então presidente, senhor Luiz Inácio Lula da Silva.
Considerando que a Política Nacional de Trânsito de 2004 permaneceu no campo das boas intenções, temos o direito de perguntar se desta vez será diferente, principalmente em dois elementos fundamentais:
a) As metas que serão propostas serão suficientemente agressivas (“bold”) de modo a, sendo alcançadas, diminuir nossa diferença em relação aos países de trânsito civilizado?
b) Serão realmente empregados, diferentemente do passado, métodos de ação que assegurem a colocação em prática, de modo eficaz, com o vigor necessário e em tempo hábil, de todos os itens do plano?
A fim de mudar significantemente e em prazo razoável a terrível incivilidade do trânsito brasileiro é necessário – desculpe-me Thomas Kuhn, por banalizar mais uma vez sua filosofia – quebrar paradigmas, chacoalhar violentamente velhos hábitos empedernidos e não me refiro aos motoristas. Como já disse mais de uma vez, foi isso que o Japão fez nas décadas de 60 e 70. Nosso sistema de trânsito real é estável (gerando, portanto, resultados estáveis; e ruins) e sistemas complexos estáveis são extremamente difíceis de serem aperfeiçoados. Há razões para dúvidas. A ÚNICA maneira de chacoalhar o sistema seria transformar a segurança e civilidade no trânsito numa VISÃO POLÍTICA NACIONAL e dar-lhe efetiva PRIORIDADE POLÍTICA em todos os níveis administrativos do país, União, Estados e Municípios. Sem isso, tiremos o cavalinho da chuva.
A nova política, como já informado, está prevista para setembro. Vamos manter o benefício da dúvida. Mas alguns sinais não são encorajadores.
Vazamentos informam que a nova PNT estabeleceria como meta diminuir o número (ou será índice?) de mortos no trânsito pela metade em dez anos! Ora, se isto for verdade seria preferível não divulgar política alguma. Se e quando o Brasil tiver um trânsito civilizado, baseado nos mesmos princípios adotados pelos países que o tem, o índice de mortos e feridos cairá não uns 30% ou 50%, mas sim várias vezes. E sem mudanças significativas no sistema, mais uma vez correremos o risco (penso que é uma certeza) de, decorridos dez anos, verificar que nada mudou. Espero estar errado.
Escrito por Paulo R. Lozano às 8:00 horas do dia 11/07/2011
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