E eu com
isso?
O governo federal não se importa
em diminuir a insegurança no trânsito; os governos estaduais idem; governos
municipais (alguns) agem do modo que bem entendem; Procuradorias não se ligam
ao problema; Tribunais de Contas idem; o Congresso Federal de vez em quando
emite leis complementares sobre trânsito, mas por outro lado não se incomoda
com as quebras de leis cometidas continuamente por órgãos componentes do Sistema
Nacional de Trânsito; a mídia só se mobiliza quando ocorrem eventos de alto
impacto emocional (o último foi a queda do alto de um viaduto de um ônibus no
Rio de Janeiro); o grande público tem preocupações maiores em mente;
importantes associações de classe, como a OAB e Institutos de Engenharia não se
dão conta do problema. Problema? Que problema? Alto índice de acidentes? E eu
com isso?
Bem, a velha percepção de que
acidentes só acontecem com os vizinhos não é lá muito consistente. Não pelos
absurdos índices brasileiros de acidentalidade. Neste interlúdio registro uma
tabela de probabilidades, baseada no atual índice de acidentes registrado pelo
seguro DPVAT. Mostro a tabela e depois a explico.
Probabilidade
de, em um grupo de n pessoas, pelo menos uma ser vítima (morto ou ferido) em
acidente de trânsito ao longo de períodos de tempo determinados:
Grupo de n pessoas
|
Período de tempo – Anos
|
||||
10
|
20
|
30
|
40
|
50
|
|
1
|
2%
|
4%
|
6%
|
9%
|
11%
|
5
|
10%
|
20%
|
28%
|
36%
|
43%
|
10
|
20%
|
36%
|
49%
|
59%
|
68%
|
15
|
28%
|
48%
|
63%
|
74%
|
82%
|
20
|
35%
|
59%
|
74%
|
84%
|
90%
|
40
|
58%
|
83%
|
93%
|
97%
|
99%
|
Vejamos o que essa tabela
significa. Um cidadão solitário tem 2% de probabilidade de ser vítima (morto
ou ferido) num acidente de trânsito qualquer num período de 10 anos. Como
motorista, passageiro, pedestre... Em cinquenta anos a probabilidade sobe para
11%. Por isso, individualmente, poucos se preocupam.
Ninguém é uma ilha. Pense em
termos familiares. Para uma família típica, marido, mulher e três filhos, as
probabilidades de que algum membro seja vítima de acidentes de trânsito nos
mesmos períodos estão mostradas na segunda linha. São 10% em 10 anos e 43% em 50. Em cada 10 famílias de cinco pessoas é muito provável
que em uma ocorra uma morte ou mutilação em decorrência de acidentes em 10 anos.
Mas uma família costuma ir além. Há
pais, mães, irmãos, sobrinhos, tios e tias... Minha família é pequena e mesmo
assim já reuni umas quarenta pessoas em casa num natal. Vejam a última linha.
Num grupo de 40 pessoas há 58% de probabilidade de que pelo menos uma vai ser
vítima em acidente de trânsito em 10 anos e 99% de que alguém vai morrer
ou ficar seriamente ferido num período de 50 anos (quem será?). A vida média
dos brasileiros, felizmente, vai bem além dos 50. Então, não é comigo?
Os acidentes de trânsito não têm
o mesmo impacto psicológico sobre a população do que a violência, mas matam na
mesma proporção e ferem mais e mais seriamente.
E eu com isso?
Escrito por Paulo R. Lozano em 11
de abril de 2013
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