quinta-feira, 11 de abril de 2013


E eu com isso?

O governo federal não se importa em diminuir a insegurança no trânsito; os governos estaduais idem; governos municipais (alguns) agem do modo que bem entendem; Procuradorias não se ligam ao problema; Tribunais de Contas idem; o Congresso Federal de vez em quando emite leis complementares sobre trânsito, mas por outro lado não se incomoda com as quebras de leis cometidas continuamente por órgãos componentes do Sistema Nacional de Trânsito; a mídia só se mobiliza quando ocorrem eventos de alto impacto emocional (o último foi a queda do alto de um viaduto de um ônibus no Rio de Janeiro); o grande público tem preocupações maiores em mente; importantes associações de classe, como a OAB e Institutos de Engenharia não se dão conta do problema. Problema? Que problema? Alto índice de acidentes? E eu com isso?

Bem, a velha percepção de que acidentes só acontecem com os vizinhos não é lá muito consistente. Não pelos absurdos índices brasileiros de acidentalidade. Neste interlúdio registro uma tabela de probabilidades, baseada no atual índice de acidentes registrado pelo seguro DPVAT. Mostro a tabela e depois a explico.

Probabilidade de, em um grupo de n pessoas, pelo menos uma ser vítima (morto ou ferido) em acidente de trânsito ao longo de períodos de tempo determinados:

Grupo de n pessoas
 
Período de tempo – Anos
 
10
20
30
40
50
1
2%
4%
6%
9%
11%
5
10%
20%
28%
36%
43%
10
20%
36%
49%
59%
68%
15
28%
48%
63%
74%
82%
20
35%
59%
74%
84%
90%
40
58%
83%
93%
97%
99%

 

Vejamos o que essa tabela significa. Um cidadão solitário tem 2% de probabilidade de ser vítima (morto ou ferido) num acidente de trânsito qualquer num período de 10 anos. Como motorista, passageiro, pedestre... Em cinquenta anos a probabilidade sobe para 11%. Por isso, individualmente, poucos se preocupam.

Ninguém é uma ilha. Pense em termos familiares. Para uma família típica, marido, mulher e três filhos, as probabilidades de que algum membro seja vítima de acidentes de trânsito nos mesmos períodos estão mostradas na segunda linha.  São 10% em 10 anos e 43% em 50.  Em cada 10 famílias de cinco pessoas é muito provável que em uma ocorra uma morte ou mutilação em decorrência de acidentes em 10 anos.  

Mas uma família costuma ir além. Há pais, mães, irmãos, sobrinhos, tios e tias... Minha família é pequena e mesmo assim já reuni umas quarenta pessoas em casa num natal. Vejam a última linha. Num grupo de 40 pessoas há 58% de probabilidade de que pelo menos uma vai ser vítima em acidente de trânsito em 10 anos e 99% de que alguém vai morrer ou ficar seriamente ferido num período de 50 anos (quem será?). A vida média dos brasileiros, felizmente, vai bem além dos 50. Então, não é comigo?

Os acidentes de trânsito não têm o mesmo impacto psicológico sobre a população do que a violência, mas matam na mesma proporção e ferem mais e mais seriamente.

E eu com isso?

 

Escrito por Paulo R. Lozano em 11 de abril de 2013

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