terça-feira, 30 de abril de 2013


Por que o policiamento de trânsito efetuado por policiais desapareceu das ruas? - 2

 

 

Após n postagens a respeito, creio que uma das maiores falhas no sistema que deságua na eterna incivilidade do trânsito brasileiro é a quase total ausência da AUTORIDADE POLICIAL nas ruas das cidades (na verdade, para mim, essa é de longe a falha) aliada a grande insuficiência e ineficácia do policiamento em estradas. 

Nos últimos dias tentei mostrar por quê. Como escrevi no dia 25 de abril, na raiz de tudo temos um sério problema político institucional.

O Código Brasileiro de Trânsito, promulgado no último governo FHC, foi um grande avanço. Ele é o maior responsável pelo sistema que está aí operando, com suas virtudes e problemas. Se nossos RESULTADOS em matéria de civilidade e segurança no trânsito são ruins em comparação com os de outros países, sem dúvida seriam ainda piores sem o CTB do jeito que está. E grande parte dos problemas que enfrentamos, tenho procurado demonstrar, não está no Código em si, mas sim no fato inconteste de que órgãos do Sistema Nacional de Trânsito e suas autoridades, em todos os níveis e em todos os cantos do país ignoram inúmeros artigos do CTB contínua e descaradamente desde sua promulgação, sem que nenhuma consequência se lhes advenha. A lei é para os cidadãos comuns, não para entidades oficiais e suas autoridades, eleitas, nomeadas ou permanentes.

Mas deixando esse ponto de lado, continua pairando no ar uma pergunta de um bilhão de dólares: por que a fiscalização de trânsito nas cidades do Brasil não é feita por policiais ou, no mínimo, também por agentes de trânsito com poderes de polícia específicos no que concerne a infrações e crimes de trânsito? Relembrando um exemplo já dado, além dos Patrulheiros, os Agentes de Trânsito Nível 4 do NYPD (Departamento de Polícia de Nova Iorque) têm poder para abordar veículos e de dar voz de prisão quando necessário.

Vejam esta foto:      

 

Certa vez presenciei um pequeno incidente de trânsito na cidade de Aallborg, no norte da Dinamarca. Em poucos segundos chegou um carro da POLÍCIA. E em poucos minutos o incidente foi solucionado (no Brasil não seria caso para um BO).

 
Voltando à postagem do dia 25, mostrei que o Capítulo 8 do CTB, que trata “DA ENGENHARIA DE TRÁFEGO, DA OPERAÇÃO, DA FISCALIZAÇÃO E DO POLICIAMENTO OSTENSIVO DE TRÂNSITO” não possui nenhum artigo sobre fiscalização e policiamento. Os legisladores fugiram propositadamente dessa espinhosa questão.

Repito, os legisladores queriam municipalizar a responsabilidade pela gestão do trânsito nas cidades (incluindo fiscalização), mas politicamente não quiseram mexer num vespeiro. PARA ESSE PROPÓSITO (até que correto) FUNCIONAR DE FATO SERIA NECESSÁRIO CONCEDER PODER DE POLÍCIAMENTO DE TRÂNSITO PARA OS MUNICÍPIOS (pelo menos para os já cadastrados no SNT). Agora, alterar responsabilidades policiais no Brasil...

Há décadas ouço falar na “urgente” necessidade de se unificar as polícias militar e civil, com o propósito de se melhorar a eficiência do combate à bandidagem. Sabemos como cada corporação se agarra com unhas e dentes aos seus argumentos, querendo manter sua independência a todo custo. Quem sofre, como sempre, é a população, com polícias descoordenadas e competindo, quando não lutando entre si.

Daí a esperteza do Congresso ao não definir responsabilidades de policiamento no CTB. Municípios têm que fazer “acordos” com as PMs... Governadores criam Comandos de Policiamento de Trânsito da PM se e quando quiserem... Para os municípios sobrou a fiscalização eletrônica automática e os “Agentes de Trânsito” sem o poder da Autoridade Policial. Várias infrações gravíssimas, que somente policiais podem combater mediante abordagens de veículos em circulação (incluindo motocicletas), estão ao Deus dará desde 1998. Com isso a impunidade se tornou “direito adquirido inconsciente”. O Contran tentou fazer um remendo definindo um Manual de Fiscalização no Trânsito, que não soluciona o problema citado.

Há esperança? Creio que não. Esse não é o tipo de problema que se ataca com decisão política no Brasil. Aliás, isso vem acontecendo com todas as reformas necessárias, fiscal, trabalhista, política e outras. Conclusão: as coisas não vão melhorar tão cedo.

 

Nota: há exceções isoladas para os problemas descritos acima, mas estou tratando do que é regra no país.

 

Escrito por Paulo R. Lozano em 30 de abril de 2013

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