quinta-feira, 4 de abril de 2013


Estatísticas 3

Esta postagem volta ao assunto (tema sistêmico) da falta de estatísticas confiáveis, completas e de fácil acesso, que por lei (CBT) e resoluções complementares deveriam existir, permitindo às próprias autoridades e ao público analisar a real dimensão dos problemas de insegurança no trânsito brasileiro.  

Mas, convenhamos, o panorama é evidente. Não é preciso nenhum RENAEST (sistema de Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito, que deveria estar em operação e disponível para consultas desde 2006) para saber que ano após ano os acidentes de trânsito – com seus mortos, feridos e elevadas perdas para a sociedade – não tem apresentado melhorias (nem em valores absolutos, nem em índices relativos) como volta e meia altas autoridades têm alardeado. O contrário é verdadeiro.

Na ausência do RENAEST as autoridades têm se valido das compilações do Ministério da Saúde, sabidamente subdimensionadas por vários motivos. São esses dados que o Brasil repassa a organizações supranacionais.

Creio então que vale a pena divulgar alguns dados provenientes das indenizações pagas pelo seguro obrigatório DPVAT. Acidentados e familiares acionado cada vez mais o DPVAT, que é administrado por uma Seguradora privada, a qual divulga um relatório anual. As informações são muito ilustrativas. No último relatório constam dados de 2012 e 2011:

                                                                                                             2011        2012        Evolução

Indenizações pagas por morte:                                    58.134     60.752     + 5%

Indenizações pagas por invalidez permanente:             239.738   352.495   + 47%

               

A quantidade de mortes é ~ 50% maior do que as mostradas nas estatísticas do Ministério da Saúde, que teimam em permanecer por volta de 40.000 por ano. Se com estas já saímos mal na foto em comparação com outras regiões, com as do DPVAT então... A União Europeia (27 países) reporta em um sistema estatístico centralizado pela Comissão Europeia a evolução de mortos e feridos conforme o gráfico abaixo (relatório de março de 2012). Neste caso, como as frotas e as populações estão razoavelmente estabilizadas, números absolutos são significativos:  

 


Então é isso. No conjunto da União Europeia, incluindo grandes países como Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Espanha morrem menos pessoas por ano em decorrência de acidentes de trânsito do que no Brasil! A quantidade de feridos também é menor. E, ao contrário do Brasil, eles estão melhorando ano a ano. Como? Com ações competentes e persistentes. Há planos, há seguimento, há cobranças, há recursos, há prioridade política.

Vejamos mais algumas constatações do relatório do DPVAT:

·         “A frota de automóvel, apesar de representar 60% da frota nacional de veículos, (fonte DENATRAN nov/12), representou 47% das indenizações pagas por morte, em 2012, enquanto que a frota de motocicletas, apenas 27% da frota de veículos, representou 39%.”

·         “A maior parte das indenizações para acidentes fatais foi para vítimas de 18 a 34 anos (41%), envolvendo motocicletas 22%, automóveis 16% e caminhões 3%.”

·         “Em 2012, nos casos de Invalidez Permanente, as motocicletas representaram 74%... do total das indenizações pagas.”

 

O relatório quantifica o que já se sabe. Motonetas e motocicletas estão aumentando dramaticamente a quantidade e severidade dos acidentes de trânsito. Em sete anos, de 2005 a 2011 (dados DENATRAN) a frota brasileira aumentou 68%, passando de (aproximadamente) 41 para 69 milhões de veículos. Nesse período a frota de duas rodas cresceu 127%, passando de 8 para 18 milhões e a dos demais veículos (4 rodas, caminhões e ônibus) cresceu 53%, passando de 33 para 50,5 milhões. As indenizações para acidentes fatais com jovens foi maior nas motocicletas (22%) do que para automóveis e caminhões somados (19%)! O último ponto também é estarrecedor, 260 mil indenizações por invalidez permanente (74% do total) decorrentes de acidentes com motocicletas.

Como o Brasil convive com isso?  

Para que não restem dúvidas a respeito do grau de incivilidade / periculosidade de nosso trânsito vou mostrar novamente um gráfico colocado em postagem anterior, atualizado para 2010, referente ao índice de acidentes por 100.000 habitantes em algumas grandes cidades do mundo. O estudo original é do Departamento de Transporte da cidade de New York, onde São Paulo não constava. Inseri o índice de São Paulo ajustado em 50%, pois os dados originais subestimados são do DATASUS.
 
 

Como já escrevi mais de uma vez não temos de melhorar 30% ou 50% em dez anos, temos de diminuir a quantidade de acidentes várias vezes já. Não para aparecermos bem aos olhos do mundo, mas para o beneficio de nós mesmos. Mas isso só acontecerá se e quando mudarmos dramaticamente nossos sistemas.

 
Escrito por Paulo R. Lozano em 04 de abril de 2013

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